DESCRIÇÃO GERAL

DESTAQUES GEOFÍSICOS

A principal característica do Parque Nacional de Anavilhanas são as permanentes ilhas fluviais que formam o segundo maior arquipélago fluvial do mundo, o arquipélago de Anavilhanas, com uma composição de raras dimensões que muda completamente de acordo com o nível das águas. O arquipélago de Anavilhanas possui aproximadamente 400 ilhas, 60 lagos e dezenas de paranás (canais de rio) e furos (caminhos estreitos que atravessam os igapós), formando um encantador labirinto que pode ser apreciado sob várias perspectivas: aéreas, embarcadas, diurnas e noturnas.

A variação do nível das águas, na cheia e na seca, possui amplitude de 8 a 12 metros. Na cheia, as ilhas e grande parte da vegetação ficam submersas, permitindo passeios que adentram os igapós (florestas inundáveis). Na seca, emergem praias de variados tamanhos, muito apreciadas por moradores locais e visitantes.

> Formação das Ilhas

A formação do arquipélago de Anavilhanas apresenta diversas hipóteses de origem, baseadas, principalmente, no movimento das placas tectônicas e nos processos de sedimentação. A hipótese mais aceita por diferentes pesquisadores é que as ilhas de Anavilhanas resultam da deposição de sedimentos em ambiente de baixa energia que está associado à tectônica regional.

> Dinâmica das Águas

O rio Negro, mais extenso rio de água preta do mundo, possui os dois maiores arquipélagos fluviais do planeta: Mariuá, o maior, e Anavilhanas, protegido quase totalmente pelo Parque Nacional de Anavilhanas. O rio representa o cotidiano de muitas comunidades ribeirinhas em seu entorno, sendo as estradas por onde navegam.

O rio Negro nasce no Escudo das Guianas, em sua porção colombiana, e corre em leito de rochas muito antigas, por isso com pouca quantidade de sedimentos, fluindo em sua maior parte com baixa declividade. Na região do Parque, a baixa velocidade também é associada ao barramento das águas exercido pelo rio Solimões. A baixa declividade e velocidade permite o espetacular fenômeno de espelhamento das águas, além de propiciar diversas atividades aquáticas.

As características geofísicas citadas, associadas à acidez das águas, originada da decomposição da matéria orgânica das formações florestais de igapó e de terra firme, torna as águas escuras e leva a um ambiente que abriga, em geral, menor diversidade e/ou abundância de espécies, se comparado aos rios de água branca. Por outro lado, em função da acidez das águas negras, a proliferação de insetos é menor, de modo que há menos mosquitos ao longo do rio, para alegria de moradores, visitantes e pesquisadores. Além disso, as águas escuras em contraste com a vegetação e, na seca, com as praias de areia branca, proporcionam paisagens de incrível beleza, inspirando diversas formas de manifestações culturais.

Em função do significativo aporte de sedimentos vindos do rio Branco, na margem esquerda a montante do Parque, há diferença entres as águas que correm nas margens direita e esquerda do rio, com essas últimas sendo mais claras e possuindo maior diversidade de algumas espécies, como macrófitas e peixes de menor porte.

> Clima

A região do PNA apresenta o clima tropical chuvoso, caracterizado por temperaturas elevadas, precipitação pluvial abundante e bem distribuída ao longo do ano.

 

BIODIVERSIDADE

O Parque Nacional de Anavilhanas protege uma diversidade de ecossistemas aquáticos e terrestres, testemunhas da história natural da região que, integrados, proporcionam uma riqueza de formas de vida, serviços ecossistêmicos e fonte de conhecimento, como legados àhumanidade.

> Vegetação

No Parque Nacional de Anavilhanas existem diversos tipos de vegetação: as florestas de igapó no arquipélago e, na terra firme, floresta ombrófila, chavascal, campina, campinarana e caatinga-gapó, essas últimas pouco estudadas.

Os macucus gigantes de igapó, as macacarecuias, as orquídeas e bromélias são destaque entre os atrativos naturais da flora do PNA.

O Parque contribui para a proteção da diversidade genética e manutenção de populações viáveis na região do Mosaico de diversas espécies florestais de valor econômico, tais como a itaúba (indústria naval), o arumã (artesanato local), o louro e a virola (construção civil) - sendo esta última considerada espécie vulnerável.

Destaca-se ainda a floresta de igapó, que possui baixa resiliência em função dos solos pobres e estresse hídrico, sendo de difícil recuperação uma vez alterados pela intervenção humana, e a caatinga-gapó, que contém o maior grau de endemismo de plantas do PNA.

> Fauna

O PNA possui três macroambientes que influenciam diretamente a distribuição da fauna local: i) as ilhas, ii) a vegetação inundável ao redor dos rios, e iii) a floresta de terra-firme.

• Mastofauna (mamíferos)

O Parque Nacional de Anavilhanas protege três espécies carismáticas de mamíferos aquáticos: o boto-vermelho (considerado "em perigo"), o boto tucuxi (cinza) e o peixe-boi (considerado "vulnerável"), além da ariranha e da lontra.

O peixe-boi e o boto-vermelho são símbolos de Novo Airão, sede do Parque, e temas centrais dos principais eventos culturais da cidade ("Festival Folclórico do Peixe-boi") e o "Carnaboto" (denominação do carnaval novo-airãoense).

O boto-vermelho, também conhecido como boto cor-de-rosa, é fortemente associado ao imaginário amazônico, sendo fonte de lendas, mitos e rituais culturais.

O Parque Nacional, por meio de um programa de ordenamento, pesquisa e monitoramento da atividade turística de interação com esses simpáticos habitantes que só existem na Amazônia, busca sensibilizar a população local e os visitantes para a conservação desta espécie. Destaca-se ainda que tanto a atividade quanto o ordenamento no Parque são pioneiros no Brasil.

Com relação aos mamíferos terrestres, destacam-se os ameaçados de extinção: onça pintada, jaguatirica, gato-maracajá, tamanduá-bandeira, tatu-canastra, anta, queixada e cachorro-do-mato-vinagre.

• Avifauna (aves)

A rica avifauna é um dos destaques do Parque Nacional de Anavilhanas, que possui espécies de distribuição limitada (Gavião-pato, Mutúm, Rabo-branco-pequeno, Arapaçu-ferrugem, Choca-preta-e-cinza, Formigueiro-liso, Dançador-de-cauda-fina, Anambé-preto), restritas às florestas de igapó (como a Choquinha-do-tapajós – classificada como "quase ameaçada"), restritas às diversas formações de campinas (incluindo as campinaranas, caatingas-gapó e chavascais, que figuram entre as menos conhecidas da Amazônia), como Gaturamo-anão, Choquinha-do-peito-riscado, Maria-da-campina, Ariramba-bronzeada e Guaracava-de-tapete-vermelho, migradoras (Águia-pescadora, Batuiruçu, maçaricos e andorinhas) e também espécies raras (como a Socó-jararaca, "em perigo", e a Garça-da-mata, classificada como "vunerável"). Destaca-se ainda que muitas delas dependem (e indicam) ambientes preservados, sendo altamente vulneráveis a distúrbios, como o Gavião-de-penacho (classificado como "NT").

Por sua riqueza, o PNA guarda grande potencial para os observadores de aves (birdwatchers), sobretudo na seca, quando a abundância e concentração de alimentos é maior, tornando o avistamento mais fácil.

• Ictiofauna (peixes)

No Parque Nacional de Anavilhanas, apesar da acidez e dos baixos nutrientes do rio, há grande diversidade de peixes graças às matas de igapó e àquelas localizadas nas margens, que fornecem abrigo e a maioria de seus alimentos (frutos, sementes e/ou folhas, insetos e outros invertebrados).

Como berçário de peixes, a conservação das matas de igapó garante o peixe nosso do dia-dia, alimento de forte valor social e cultural dos povos amazônidas.

No PNA foram encontradas até o momento 368 espécies de peixes, o que representa cerca de 82% do total de espécies registradas em todo o rio Negro.

As ameaças à ictiofauna em Anavilhanas referem-se, principalmente, à pesca comercial, que não é permitida em Parques Nacionais.

Como em Parques Nacionais não é permitido nenhum uso direto dos recursos naturais (caça, pesca, extrativismo, agricultura, etc.) e como há mais de 50 comunidades tradicionais ribeirinhas no entorno do Parque, está em andamento um processo de busca de instrumento jurídico que regule a pesca de autoconsumo, para deixar todo mundo Legal.

• Herpetofauna (anfíbios e répteis)

Dentre as espécies de anfíbios e répteis encontradas no PNA destacam-se 50 espécies de anuros, 19 espécies de lagartos e 22 espécies de serpentes. Estudos indicaram que das seis espécies de jacarés que ocorrem no Brasil, quatro podem ser encontradas no PNA (Jacaré-tinga, Jacaré-anão, Jacaré-coroa e Jacaré-açu), e das 15 espécies de quelônios de água-doce encontradas na Amazônia, 14 existem no PNA. Dentre elas, destacam-se a Tartaruga-da-Amazônia, o Tracajá e a Iaçá, que sofrem grande pressão de caça para consumo de carne e ovos, sendo a primeira considerada dependente de conservação pela a IUCN e as duas últimas classificadas como vulneráveis.

 

HISTÓRIA E CULTURA

O processo de uso e ocupação do solo na região do rio Negro se inicia com os povos originários, cujos estudos disponíveis apontam vestígios arqueológicos de até 6.500 anos, alguns já identificados no entorno do Parque.

Falantes Arawak, Tukano, Maku e Karib destacam-se entre as etnias presentes na região. A Terra Indígena dos guerreiros Waimiri-Atroari é a mais próxima do Mosaico de Áreas Protegidas do Baixo Rio Negro, sendo sua vizinha à nordeste.

Colonização; decaimentos; miscigenação (entre brancos de origem sobretudo portuguesa; negros escravos, libertos e quilombolas; e indígenas de várias etnias); especiarias; seringais; artesanato; castanhas e macaxeiras; da grande província amazônida do Grão-Pará à sua incorporação ao Império Brasileiro, o que fez regredir os avanços nos processos de independência e abolição da escravatura na Amazônia; a Cabanagem; as lutas socioambientais; os povos das florestas e rios; Chico Mendes, entre tantos outros homens e mulheres defensores da sociobiodiversidade; são marcos e símbolos importantes da história e culturas regionais, formando sua identidade frente à diversidade de paisagens e povos amazônidos.

Ainda que considerada por muitos como periferia do Brasil "moderno", a importância da Amazônia para o Brasil e o mundo são inestimáveis, destacando-se sua influência no clima regional e mundial, inclusive frente às mudanças climáticas.

> Relação do PNA com Novo Airão e Entorno

Novo Airão, antiga Tauapessaçu, é sede do PNA, cuja cultura de seus moradores (da cidade e das comunidades tradicionais) conecta-se ao rio e à floresta, seja no transporte, na alimentação, no lazer, na saúde, na fé, na linguagem e nas manifestações culturais.

A mudança de categoria de Estação Ecológica para Parque Nacional permitiu a visitação turística, o que minimizou os conflitos gerados pelo impedimento legal do uso direto dos recursos naturais dentro dos limites da Unidade, favorecendo a geração de renda advinda dessa importante atividade econômica para o município.

Os serviços ecossistêmicos exercidos pela área protegida do PNA, como regulador do clima e berçário de espécies, são fundamentais para a garantia da qualidade de vida dos moradores do entorno e das futuras gerações.

 

RECONHECIMENTO

O Parque Nacional de Anavilhanas possui vários títulos que reconhecem sua importância dentro do cenário internacional, nacional e regional. Compõe a Reserva da Biosfera da Amazônia Central (reconhecida pela UNESCO), faz parte do Complexo de Conservação da Amazônia Central (Patrimônio Natural da Humanidade; também da UNESCO) e pertence ao Mosaico de Áreas Protegidas do Baixo Rio Negro (reconhecido pelo MMA), além de ser Sítio RAMSAR (relacionado às áreas úmidas do planeta).

> Mosaico de Áreas Protegidas do Baixo Rio Negro

O Mosaico de Áreas Protegidas do Baixo Rio Negro é composto por 12 Unidades de Conservação (3 federais, 8 estaduais e 01 municipal), totalizando uma área de aproximadamente 7,5 milhões de hectares, sendo importante instrumento de gestão territorial para o desenvolvimento socioambiental da região, onde Anavilhanas é considerada como coração do Mosaico, em virtude de sua localização geográfica e de suas relações com as demais UCs.

 Mosaico Baixo Rio Negro