Tem pintada na Bocaina

Pegada foi encontrada nas proximidades da Cachoeira do Veado (Foto de Luiz Rodrigues).

Texto de Mara Pais

Pegadas de onça-pintada foram fotografadas no mês passado nas proximidades da Cachoeira do Veado pelo servidor e gerente de fogo do Parque, Luís Rodrigues da Silva. Luizinho, como é conhecido, desempenhava atividades de manejo na região em conjunto com membros da brigada contra incêndios do Parque, quando encontrou as pegadas.

A confirmação de que se trata realmente de onça-pintada, e não de onça-parda, mais comum na região, veio do  biólogo Elildo de Carvalho Júnior, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros  (CENAP - ICMBio). O mesmo veredito foi dado  por outra especialista no assunto, Sandra Cavalcanti, da Associação Pró-Carnívoros.

 A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino das Américas e terceiro maior do mundo, perdendo em tamanho apenas para o leão e o tigre. É um predador de topo de cadeia e sua presença é um bom indicador do grau de conservação do habitat, já que necessita de extensas áreas naturais bem conservadas para sobreviver. Por isso mesmo é uma espécie altamente ameaçada de extinção, especialmente no bioma Mata Atlântica, onde restam apenas cerca de 7% da cobertura florestal original.

Embora muito temida, casos de ataques de onças a pessoas são extremamente raros, pois o animal tende a evitar a presença humana. E os casos de predação de animais domésticos geralmente ocorrem quando a onça não encontra na natureza suas presas costumeiras, como capivaras, veados, antas e porcos do mato. Daí a importância de se combater a caça a esses animais, que além de ilegal, diminui a disponibilidade de alimento para os grandes felinos.

Até o momento não havia dados que confirmassem a presença de onças-pintadas no Parque Nacional da Serra da Bocaina. Em 2008, uma equipe liderada por Peter Crawshaw e Sandra Cavalcanti vasculhou vários trechos do Parque e entorno em busca de indícios de onça-pintada, inclusive com a instalação de várias armadilhas fotográficas, mas nem sinal dela.

O registro de onça-pintada mais próximo que se tinha para a região vinha de uma pegada fotografada em 2009 no núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar, em Ubatuba.

Os moradores e conhecedores da Bocaina, porém, contestam a presença da onça-pintada. "Onça-pintada não tem não!", diz Sr Jairo, que morou muitos anos na região do Jacu Pintado, Bananal, e que também é servidor do Parque. Mas, ao ser questionado sobre a onça-preta ou pantera (não a onça-parda ou suçuarana), a resposta é diferente: "Ah, essa os sertanejos dizem que tem!". O que muita gente não sabe, é que a onça-preta é a forma melânica da onça-pintada, ou seja, ambos os tipos constituem a mesma espécie, podendo se cruzar e daí nascer tanto filhotes "pintados" como pretos. A probabilidade do nascimento de uma onça-preta, porém, é bem menor do que o de uma onça-pintada, apenas cerca de 6%.

Preta ou pintada, a presença de uma ou mais dessas onças na Bocaina é motivo tanto de alegria como de preocupação. Alegria pelo fato da espécie ter conseguido se manter bravamente neste precioso trecho de mata atlântica, rodeado de cidades, estradas e pastagens. Resta, porém, a preocupação sobre sua capacidade de se perpetuar num cenário de cada vez maior isolamento  geográfico. Até quando?

Onça-pintada (Foto de Marcelo Guena de Oliveira)Onca-preta (Foto disponível em OsMais.com)

Onça pintada, em seu padrão de coloração mais comum. (Foto de Marcelo Guena).

Onça preta, a forma melânica da onça pintada (Foto extraída de OsMais.com).