Projeto de Ciência Cidadã e de Turismo de Base Comunitária beneficia PARNASO e região

 

Uma ciência com compromisso social e ambiental é uma demanda urgente da sociedade e fato que pode ajudar muito as Unidades de Conservação. Implantar atividades em áreas naturais na perspectiva da ciência cidadã e estímulo ao voluntariado foi um dos objetivos do curso "Ecoturismo de Base Comunitária" que ocorreu no PARNASO de 21 a 25 de janeiro de 2019. O projeto pretende atender às demandas dos parques envolvidos: PARNASO e PARNA da Serra da Bocaina. O curso de Turismo de Base Comunitária foi o terceiro realizado pelo projeto "Implantação, Teste e Aperfeiçoamento da Ciência Cidadã" promovido pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) em parceria com o Instituto Itapoty e PARNASO. Os outros módulos foram de incentivo à ciência cidadã e de treinamento físico para a saúde e o manejo ambiental. O curso trabalhou assuntos como os serviços ambientais e a biodiversidade como atrativo turístico, a história natural da região do parque, as atividades de aventura e de base comunitária e a conduta consciente. A coordenação é da professora Maria de Lourdes Spazziani do Departamento de Educação do Instituto de Biociências da UNESP em Botucatu. A equipe contou também com a doutoranda do Programa de Educação para a Ciência da UNESP de Bauru, Nijima Novello Rumenos, com Pedro Fernando Viana Felício e Murilo Gambato de Mello do Instituto Itapoty. A ciência cidadã, de acordo com Maria de Lourdes, envolve "paixão e vontade na área da ciência com o enfoque socioambiental". "Trata-se de uma perspectiva em que o indivíduo busca atividades relacionadas à ciência de forma voluntária, gosta da natureza e procura um mundo melhor" acrescentou Nijima. "Envolve movimento, ação e a saúde", completou Pedro. A equipe defende o víeis da Educação Ambiental crítica em benefício das comunidades. "Temos que ouvir a comunidade, criar diálogo", afirmou Pedro. O projeto tem a intenção de identificar os atores sociais, despertar a participação e promover o pertencimento. Procura-se assim a construção e a implantação de ferramentas coletivas de transformação social e de proteção ambiental. "A universidade nasceu para atender os interesses das elites e não para promover a justiça social. A ciência para a manutenção do domínio, ignorando os conhecimentos populares e tradicionais. Nós queremos mudar isso" ressaltou Maria de Lourdes.

Alunos simularam trabalho de guiamento

O curso contou com a participação de 31 alunos. Foi uma turma bem heterogênea com conhecimentos e atuações diversas. "Alguns faltam experiência e vivência, mas todos gostam da natureza. O mais importante é o desejo de quererem atuar no campo da ciência e da transformação comunitária" enfatizou a professora da UNESP. O curso trabalhou questões relacionadas ao uso público das Unidades de Conservação e o incentivo a maior frequência dos parques e do contato com a natureza. "As pessoas que vivem nos espaços urbanos carecem de experiências com o meio ambiente", argumentou Pedro. Nijima em seu projeto de doutorado pretende analisar como os cursos estarão contribuindo para a transformação social através da Educação Ambiental crítica e a maior aproximação com as comunidades. Nijima quer abranger o processo formativo ligado à ciência e ao processo de voluntariado. Deve defender sua tese no final do ano. Murilo explicou que o Instituto Itapoty é uma ONG com 14 anos de atuação e com sede em Itatinga no interior de São Paulo. A missão da ONG é de procurar desenvolver sociedades melhores e mais sustentáveis através de atividades ecológicas. Ele participou do curso com diversas dinâmicas e tratou de temas importantes como a história natural da região do PARNASO e a problemática dos resíduos. "O cidadão tem que dar o melhor de si para melhorar a sociedade e o ambiente", defendeu Murilo. A parceria entre a UNESP e o Instituto Itapoty que promoveu o curso contou com recursos do edital de 2017 do CNPq e ICMBio.

O instrutor Murilo detacou a história natural da região do PARNASO

Além do curso, os alunos vão executar uma ação de 40 horas em benefício do PARNASO e região. A maioria optou por atividades coletivas, algumas relacionadas com educomunicação, turismo e uso público. "O esperado é que as pessoas sintam mais responsabilidade. Não importa a profissão. Implantar a sustentabilidade em todos os níveis", concluiu Murilo. A aluna Tatiana Ribeiro, bióloga e turismóloga, afirmou que "o cientista deve fazer sua pesquisa e melhorar sua interação com a comunidade, construir diálogo". Ela está realizando mestrado na FIOCRUZ na área de Divulgação Científica e procurou o curso por acreditar nos princípios da ciência cidadã. O aluno Thiago da Cruz Alves de Petrópolis é formado em ciências sociais e trabalha com agricultura orgânica e como condutor de trilhas do PARNASO. Acredita no Turismo de Base Comunitária e por isso optou pelo curso. "Temos que privilegiar os elementos da realidade local", destacou. "O cientista que não dialoga com a sociedade terá sua ciência ameaçada", ressaltou o aluno Edvandro de Abreu Ribeiro, biólogo e mestre em Ecologia e Evolução. Edvandro é da comunidade de Santo Aleixo no entorno do PARNASO, em Magé. Acredita muito no desenvolvimento do Ecoturismo de Base Comunitária para a geração de renda e para a sustentabilidade de Santo Aleixo. A voluntária do PARNASO, Hannah Luiza Auton é de Bielefeld na Alemanha e também participou do curso. Ela deseja aperfeiçoar sua atuação na sinalização e no manejo de trilhas e na recepção de visitantes.

Noçoes de primeiros socorros fizeram parte do curso

Outro módulo importante do curso foi o de primeiros socorros que contou com a colaboração voluntária do bombeiro civil e técnico de enfermagem, Carlos Henrique Silva. Ele enfatizou a abordagem, a avaliação primária, o transporte e a comunicação em caso de acidentes em trilhas e acampamentos. Carlos disse que os acidentes mais comuns são torção do tornozelo, mal súbito e desidratação. Ele acha que é importante os alunos se aperfeiçoarem com mais aulas práticas. "A teoria ajuda, mas só a prática massifica", ressaltou. O ideal seriam pelo menos 20 horas práticas. No entanto, os alunos prestaram muita atenção e simularam alguns resgates. "o ambiente natural é muito instável", lembrou Pedro. Quem quiser se aperfeiçoar pode procurar Carlos no mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. .

Os gurpos apresentaram projetos para o PARNASO e entorno

Cursos como este servem para aproximar visitantes, comunidade, cientistas e funcionários do parque. As atividades práticas devem ser continuadas e fazerem parte da própria política da Unidade de Conservação. O trabalho de extensão universitária desta forma se une às demandas do PARNASO e toda a comunidade do entorno e dos frequentadores é beneficiada. A coordenadora do Programa de Voluntariado do PARNASO, Isabela Deiss, achou muito importante o curso ter aceitado a participação da equipe do parque na seleção dos alunos. Houve oportunidade também para a apresentação das metodologias adaptadas e dos interesses da gestão da Unidade de Conservação. "Houve importante parceria, a coordenação da UNESP permitiu a apresentação de nossa experiência. Participamos na seleção dos alunos e garantimos assim a participação social privilegiando gente das comunidades do entorno do parque. O trabalho de extensão do curso vai ser aplicado aos interesses da gestão do PARNASO e foi uma chance de fortalecemos o programa de voluntariados", argumentou Isabela.

Reportagem de Francisco Pontes de Miranda Ferreira – Apoio à Coordenação de Pesquisa e Monitoramento da Biodiversidade

Fotos de autoria e cedidas pelo aluno do curso, Rafael Rezende