Avaliação do risco de extinção da herpetofauna no Brasil

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O avanço do desenvolvimento humano e consequentemente a exploração dos recursos naturais, vem ocasionando grandes mudanças no ambiente. Uma das estratégias para se estimar os danos das atividades humanas à flora e a fauna é fazer a avaliação periódica do estado de conservação das espécies, que resulta numa lista de espécies categorizadas segundo o grau de ameaça.

Essas listas são importantes na medida em que indicam a necessidade de ações voltadas para a conservação das espécies e consequentemente de seus habitats. Tornam-se alerta para a sociedade e principalmente para o governo, que deve adotar medidas efetivas para conservação da biodiversidade, como por exemplo incentivar o desenvolvimento de pesquisas, identificar áreas prioritárias para conservação e subsidiar medidas específicas de proteção.

A última publicação da Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção ocorreu em 2003, pelo Ministério do Meio Ambiente, onde consta 30 espécies de répteis e anfíbios ameaçados de extinção e uma de anfíbio extinta. A perspectiva é de que essa lista aumente bastante, principalmente em decorrência da perda, fragmentação e diminuição de qualidade de habitats.

Desde 2009, o ICMBio vem promovendo e direcionando a etapa científica da avaliação do risco de extinção das espécies da fauna brasileira, contando com  a participação de seus Centros de Pesquisa e Conservação e a  comunidade científica brasileira. A meta do governo brasileiro, signatário da Convenção sobre a Diversidade Biológica, é avaliar todos os vertebrados e, seletivamente, os invertebrados até 2014.

Ao RAN cabe coordenar o processo de avaliação do estado de conservação dos répteis e anfíbiosno Brasil, aproximadamente 1.700 espécies. A metodologia de avaliação, mundialmente conhecida, é a da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Até o momento foram avaliadas e validadas as 31 espécies de quelônios continentais, as seis de crocodilianos e 879 espécies de anfíbios e 373 serpentes. As 248 espécies de lagartos e 67 anfisbênias serão avaliadas em 2013 e 2014 respectivamente.

A metodologia de avaliação adotada pelo ICMBio e seus Centros Especializados é a da União Internacional para Conservação da Natureza – IUCN, cuja versão em português pode ser acessada aqui: Conceitos e definições; Categorias e critérios.


O processo de avaliação dos anfíbios no Brasil iniciou em 2010. O Dr. Célio F. B. Haddad, professor da UNESP-Rio Claro, participou do processo na qualidade de Coordenador do Táxon, pois além de ser um conceituado especialista em anfíbios é respeitado pelos herpetólogos, possibilitando dessa maneira a agregação dos pesquisadores ao processo. Sim, porque, a participação da comunidade científica foi fundamental para a qualidade e legitimidade do resultado do trabalho.

Para a avaliação dos anfíbios foram realizadas quatro oficinas, uma em 2010, duas em 2011 e a última em junho de 2012. Na primeira oficina foram avaliadas 91 espécies e participaram como avaliadores 21 pesquisadores, representando 15 instituições de ensino e/ou pesquisa. Na segunda foram avaliadas 251 espécies e 25 pesquisadores participaram representando 18 instituições. Na terceira, 22 pesquisadores, representando 14 instituições, avaliaram 282 espécies. Na quarta, e última oficina, foram avaliadas 282 espécies e contou com a participação de 26 avaliadores, representando 18 instituições. A indicação dos avaliadores para a oficina levou em consideração o conhecimento sobre a história de vida das espécies indicadas, assim como, o conhecimento das ameaças sobre a espécie e/ou seu hábitat.

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Participantes das oficinas de avaliação do estado de conservação dos anfíbios no Brasil. Fotos: acervo RAN.

Em toda oficina houve um breve treinamento sobre a aplicação do método de avaliação do grau de risco de extinção de uma espécie desenvolvido pela IUCN. Os avaliadores trabalharam em grupos, divididos por região geográfica/espécie. Ao final do dia, em plenária, o resultado da avaliação de cada espécie era apresentado e validado por todos. Nas oficinas houve sempre a presença de facilitadores, cuja função era a de auxiliar os participantes na aplicação do método. Em todas oficinas o Dr. Márcio Roberto Costa Martins, professor da USP e Autoridade da Lista Vermelha (RLA) da IUCN para anfíbios, participou como facilitador, assim como, a Sra. Yeda Soares de Lucena Bataus MSc, do RAN e o Sr. Carlos Eduardo G. Carvalho, MSC da COABIO. Na terceira oficina, houve a participação da Dra. Ariadne Angulo, também RLA da IUCN para anfíbios. A participação do Dr. Márcio foi de suma importância, pois garantiu ao processo adequabilidade ao método e a da Dra. Ariadne possibilitou a ratificação da condução dos trabalhos. É importante ressaltar que o RAN contou com a participação de seus técnicos e dos seguintes consultores para a busca e compilação das informações sobre a história de vida das espécies e registros de ocorrência: Sr. Mágno Vicente Segalla, Sr. João Gabriel Ribeiro Giovanelli Msc e Dr. Iberê Farina Machado, e, para a elaboração dos mapas de distribuição das espécies contou com a equipe do NGeo do RAN, Sras. Flávia R.Q.Batista, MSc e Vívian Mara Uhlig, MSc.

A avaliação dessas 906 espécies resultou em: uma espécie extinta (EX), 14 criticamente em perigo (CR), oito em perigo (EN), 19 vulneráveis (VU), 27 quase ameaçadas (NT), 158 dados insuficientes (DD), 652 menos preocupantes (LC) e 27 espécies como não aplicáveis (NA). Agora as fichas com o resultado da avaliação de cada espécie serão encaminhadas para a etapa de validação do resultado das oficinas, que será conduzida pela COABIO/ICMBio e contará com a participação de pessoas experientes na aplicação do método de avaliação da IUCN. Com intuito de dar publicidade à etapa técnico-científica do processo, o ICMBio publicará de forma eletrônica e impressa o resultado da avaliação de cada espécie em um volume relacionado ao táxon.

Após a etapa de validação o ICMBio encaminhará a lista de anfíbios ameaçados de extinção ao Ministério do Meio Ambiente, para apreciação e publicação oficial da lista.

O que se pôde observar ao longo do processo foi que a maioria das espécies que se encontram ameaçadas, estão assim, em decorrência da perda de hábitat ou da qualidade, em decorrência da expansão da atividade agropastoril, da ocupação urbana, da poluição do solo e dos recursos hídricos, barramentos etc.

Em relação a atual lista oficial da fauna brasileira ameaçada de extinção onde há 15 espécies de anfíbios ameaçados e uma extinta, a a princípio, podemos dizer que houve um acréscimo de mais de 100%, pois após a avaliação de 906 espécies 41 estão ameaçadas de extinção. 

grupo trab anfibio

Grupos de trabalho - IV Oficina de avaliação do estado de conservação dos anfíbios no Brasil, ACADEBIO, Iperó-SP, de 25 a 29 de junho de 2012.


O processo de avaliação da biodiversidade brasileira é coordenado pela COABIO/CGESP/DIBIO e o processo de avaliação da herpetofauna no Brasil está sob a coordenação do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios – RAN, que tem como Ponto Focal a Analista Ambiental, Yeda Bataus.  Para o processo de avaliação das serpentes o Centro conta com a participação do Dr. Márcio Roberto Martins, da USP, como Coordenador do táxon e do Dr. Cristiano Nogueira, da UnB, como Co-coordenador. O ponto forte do processo é a participação da comunidade científica em todas as etapas, pois sem o conhecimento acadêmico acumulado, não conseguiríamos chegar a um resultado de qualidade e legítimo.

A avaliação das serpentes foi dividida em duas oficinas, realizadas neste ano na ACADEBIO, uma em abril e outra em outubro. Participaram ao todo, 24 avaliadores representando 16  instituições de ensino/pesquisa e empresa privada: AMPLO, MPEG, MZUSP, USP, UFRPE, UFRN, UFMT, FURG , UFRGS, PUCRS, UFAM, UFSM, UFES, UESC, UNIFESP e RAN.

Na primeira oficina foram avaliadas 173 espécies e na segunda 218, totalizando 391 espécies. Desse total, 5 espécies foram categorizadas como Criticamente em perigo (CR), 18 Em perigo (EN), 5 Vulnerável (VU), 7 Quase ameaçada (NT), 21 Dados insuficientes (DD), 314 Menos preocupante (LC) e 21 Não aplicável (NA). Na atual lista oficial da fauna brasileira ameaçada de extinção (IN 03/03-MMA), há 5 serpentes listadas como ameaçadas de extinção. Após a conclusão da avaliação esse número subiu quase que 6 vezes, pois 28 espécies foram categorizadas com grau de risco de extinção.

A próxima etapa, sob coordenação da COABIO, é a validação dessas avaliações, e, em seguida, vem a publicação da lista das espécies que estão ameaçadas, cuja competência é do Ministério do Meio Ambiente.

OficinaI - Foto Acervo RAN

Participantes da I Oficina de avaliação do estado de conservação das serpentes no Brasil, ACADEBIO, Iperó-SP, de 23 a 27 de abril de 2012. Foto: acervo RAN.

OficinaII - Foto Acervo RAN

Participantes da II Oficina de avaliação do estado de conservação das serpentes no Brasil, ACADEBIO, Iperó-SP, de 22 a 26 de outubro de 2012. Foto: acervo RAN.