Muito além da preservação

 Área de proteção estimulam pesquisas e educação ambiental

APA de Guapimirim e Parque Nacional Serra dos Órgãos são polos de estudos de todos os tipos; Petrópolis tem Feira Ecosolidária.

TERESÓPOLIS - Quando se fala em área de proteção ambiental, geralmente, as primeiras ideias que vêm à cabeça são preservação e ecoturismo. Na verdade, essas unidades vão muito além dessas funções. Na Serra, elas são grandes polos de pesquisas científicas, onde são promovidos trabalhos de conscientização e integração da comunidade local.

A APA Guapimirim é a prova disso. Criada em 1984, a área de 14 mil hectares não surgiu de uma iniciativa governamental, como normalmente acontece nesses casos, mas pela mobilização de ambientalistas e da comunidade científica. Em 2006, foi criada no interior da APA a Estação Ecológica da Guanabara, que é a área mais conservada da Baía de Guanabara — a última com características próximas ao período anterior à colonização europeia. De lá para cá, 62 pesquisas foram autorizadas na região.

— A grande demanda de estudos se dá muito por conta da proximidade com as grandes universidades do Rio — explica Maurício Muniz, chefe da APA.

Os estudos abrangem áreas como biologia, geografia, arquitetura e urbanismo e antropologia. Um deles, desenvolvido pelo Departamento de Oceanografia da Uerj, monitora as últimas 40 espécimes de boto-cinza existentes na região.

A unidade também é uma referência em pesquisas voltadas para avaliar o impacto ambiental da instalação de grandes empreendimentos e intervenções numa área.

— Por conta do complexo petroquímico aqui no entorno, temos implementado muito essa linha de pesquisa. Monitoramos elementos como a qualidade das águas, sedimentos, estrutura da vegetação, fauna aquática e terrestre e até questões de clima e pressão atmosférica — diz Muniz.

Assim como em qualquer unidade de conservação, para realizar um estudo na APA, a pessoa deve solicitar uma autorização por meio do Sisbio, um sistema on-line que permite que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) mantenha uma base de dados. Na sede da unidade, o pesquisador conta com um abrigo, onde pode se hospedar no período em que estiver trabalhando por lá, e um laboratório para triagem de materiais.

Além da vertente científica, a APA desenvolve um trabalho de conscientização e apoio à população do entorno, formada, em grande parte, por pescadores. No interior da estação ecológica, é proibido pescar, mas, no território da APA, é permitida a prática de pesca artesanal com vara.

— No começo, eles não gostaram, mas, com o tempo, viram que somos aliados. Por exemplo, há alguns anos não se encontrava mais caranguejo no mangue. Os carangueiros, então, tinham que ir para outros estados a fim de trabalhar. Hoje, já voltaram a catar por aqui — conta Juliana Cristina Fukuda, analista ambiental da unidade.

Entre as ações desenvolvidas pela APA para os pescadores está uma régua que mostra o tamanho mínimo permitido para um robalo ser pescado. Caso um peixe com tamanho menor seja capturado, ele deve ser devolvido à água. A medida visa à manutenção da espécie na região.

Parte desses pescadores passou até mesmo a conseguir um complemento na renda mensal fazendo o transporte e guiando os pesquisadores. Um deles é Adílson Fernandes, que mora na região há 43 anos.

— Há seis anos, eu trabalho com o transporte de pesquisadores. Por mês, tiro entre R$ 1,5 mil e R$ 3 mil com essa função — conta.

Ele diz que o serviço é cobrado por diária e custa em torno de R$ 300. Em algumas ocasiões, já chegou a ficar por mais de 15 horas transportando equipes pelo mangue.

Região lidera pesquisas

O Parque Nacional da Serra dos Órgãos é a unidade de conservação federal com maior número de pesquisas científicas no Brasil. Só no ano passado foram 91. São 20.024 hectares em Teresópolis, Petrópolis, Magé e Guapimirim. Segundo a coordenadora de pesquisas Cecilia Cronemberger, além dos projetos de universidades e centros de pesquisa, a unidade desenvolve estudos por conta própria.

— Algumas pesquisas interessantes que realizamos com a equipe do parque são o inventário de mamíferos de médio e grande porte, particularmente felinos, e os impactos do tu rismo sobre o comportamento dos quatis — afirma a coordenadora.

Na sede de Teresópolis, o parque tem um abrigo para pesquisadores, laboratórios de pesquisa e geoprocessamento e uma biblioteca.

Em breve, a cidade contará com estrutura também no Parque Estadual dos Três Picos. O governo do estado anunciou esta semana um investimento de R$ 12 milhões na unidade para melhorias e construção de uma subsede no Vale da Revolta, às margens da rodovia BR-116.

A Secretaria de Estado do Ambiente informou que, embora o edital para as obras já tenha sido publicado, ainda não foi aberta a concorrência para a escolha da empresa que executará as intervenções. Por isso, não é possível estabelecer prazo para o início e a conclusão das obras.

APA tem feira educativa

Há um ano, a s ede da APA Petrópolis promove, semanalmente, a Feira Ecosolidária. O projeto é uma parceria da unidade com o grupo Slow Food Petrópolis, a Associação de Produtores Orgânicos de Petrópolis e o Fórum Municipal de Economia Solidária.

— Este trabalho liga alimentos, consumo e sustentabilidade ambiental. Nosso foco é a conscientização e não propriamente o lucro — explica Denise Gonçalves, uma das organizadoras.

Além de frutas e verduras orgânicas, na feira são comercializados compotas e artesanato confeccionados por moradores da região.

— Queremos criar um público consciente com relação às consequências da maneira como consumimos. Os produtos industrializados têm um impacto ambiental enorme, não só pela maneira da produção, mas também pelo transporte de longas distâncias — frisa Denise.

A feira acontece aos sábados, das 9h às 15h. A sede da APA fica na Estrada União e Industria 9.722, Itaipava.

O GLOBO – VÍDEOS

Muito além da preservação

http://oglobo.globo.com/videos/t/todos-os-videos/v/catalogo/2763603

Áreas de Proteção Ambiental Guapimirim e Petrópolis, na região serrana fluminense, estimulam pesquisas e educação ambiental. Editoria: Jornais de Bairro