CRUZANDO OS ANDES

Paulo de Tarso Zuquim Antas*

 

Em 1637, o português Pedro Teixeira subiu o rio Amazonas desde a sua foz no Oceano Atlântico em uma expedição exploratória e chegou no ano seguinte a Quito, atual capital do Equador, onde assombrou os espanhóis do então Vice-Reino do Peru por ter cruzado a Cordilheira dos Andes por uma via inesperada.

Agora quase 400 anos depois, outra visita oriunda da Amazônia espanta os peruanos ao cruzar também os Andes. No início de fevereiro foi encontrada na Reserva Nacional de Paracas uma ave nascida no rio Solimões, Amazonas, portando uma anilha do CEMAVE. Essa é a primeira recuperação de uma anilha brasileira no Peru, ocorrendo nessa reserva emblemática para a conservação de aves do país e do continente sul-americano. Criada em setembro de 1975 na costa peruana a cerca de 200km ao sul de Lima, a capital do país, a reserva está inscrita na Rede Hemisférica de Reservas para as Aves Limícolas e Sítio Ramsar por sua importância para aves aquáticas, em especial limícolas e marinhas e abrange em seus limites algumas das colônias mais importantes de aves guaneras

No final da década de 80, o CEMAVE participou do Taller de Aves Migratórias, organizado por Victor Pulido Capurro quando estava na Direccion Nacional de Fauna, inspirado nos cursos de anilhamento de aves do Brasil. Parte do curso foi realizado em Paracas. Agora esse vínculo histórico se renova com o encontro dessa anilha brasileira do outro lado dos Andes, conectando novamente a Amazônia com o litoral do Oceano Pacífico na América do Sul. Mostra, também, a importância da conservação da Reserva de Paracas para mais um grupo de aves além daqueles já conhecidos.

 

* Paulo de Tarso Zuquim Antas foi coordenador do CEMAVE de 1978 a 1993.