PATO-MERGULHÃO - EMBAIXADOR DAS ÁGUAS BRASILEIRAS

O pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) é uma espécie especialista em rios, considerada como uma das aves mais ameaçadas das Américas e uma das mais raras do mundo, inclusive sendo considerada extinta entre 1940 e 1950. É conhecida no Brasil, Argentina e Paraguai, sendo que em território nacional há registros confirmados em três bacias hidrográficas: São Francisco, Tocantins e Paraná. Infelizmente, no Paraguai e na Argentina, a espécie não é encontrada há mais de 10 anos.

 

Pato-mergulhão - indivíduo macho. Foto: Sávio Freire Bruno TAXONOMIA E ESTADO DE CONSERVAÇÃO

Classe: Aves

Ordem: Anseriformes

Família: Anatidae

Tribo: Mergini

Espécie: Mergus octosetaceus

Estado de Conservação: Criticamente em Perigo (CR)

 

 

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EMBAIXADOR DAS ÁGUAS BRASILEIRAS

O pato-mergulhão depende de águas limpas e transparentes, especialmente dos rios e córregos cercados por matas ciliares, com cachoeiras e piscinas de diferentes tamanhos e profundidades. São excelentes nadadores e apresentam um senso visual acurado. Diferente de outras espécies de patos, o pato-mergulhão possui um bico longo, serrilhado e captura presas vivas ao mergulhar (daí a origem de seu nome). Por isso, é extremamente afetado por qualquer alteração na qualidade das águas. Esta característica é determinante, pois a espécie somente é capaz de sobreviver onde as águas são limpas e transparentes. Por tais particularidades, esta espécie é considerada um bioindicador ambiental: onde há presença deste pato, o ecossistema ainda se encontra em equilíbrio. Dessa forma, o ser humano e o pato-mergulhão compartilham da mesma necessidade por águas limpas para sua sobrevivência.

 Pato-mergulhão - familia nadando no rio. Foto: Sávio Freire Bruno

 

POPULAÇÃO e DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA

Atualmente, a população mundial dessa espécie é estimada em menos de 250 indivíduos na única área de distribuição disjunta brasileira. Os esforços de trabalho de campo são necessários para realizar novo censo na área de distribuição atual, percorrer áreas de ocorrência histórica e investigar novas áreas ainda não visitadas. A espécie está presente no Brasil em apenas quatro localidades: Serra da Canastra e Serra do Salitre em Minas Gerais, Chapada dos Veadeiros em Goiás e região do Jalapão em Tocantins, principalmente em áreas localizadas nos limites e entorno de unidades de conservação (Fig. 01). Dessa forma, fica evidente a importância das unidades de conservação para garantir a sobrevivência desta espécie. A região da Serra da Canastra abriga a maior população da espécie, com cerca de 140 indivíduos.

 

MAPA DE OCORRÊNCIA DO PATO MERGULHÃO

Fig. 01: Mapa de distribuição das populações de pato-mergulhão

 

 

AMEAÇAS

Por ser uma espécie com requerimento de habitat muito específico, o pato-mergulhão é pouco tolerante a impactos no ambiente. A principal ameaça à espécie é a degradação do seu habitat. Toda e qualquer atividade que provoque alterações hidrológicas nos rios e modificações no habitat ou na estrutura da paisagem, por menores que sejam, podem inviabilizar a sobrevivência da espécie em uma determinada área. Os projetos hidroenergéticos são uma importante ameaça, uma vez que provocam a mudança de rios e córregos dos quais o pato-mergulhão depende, em barragens e lagoas.

O aumento dos sedimentos em suspensão na água decorrente da remoção da vegetação ao longo dos rios e a alteração da qualidade físico-química da água por meio de poluentes como defensivos agrícolas, adubos e descargas orgânicas (esgotos residenciais) provocam o desaparecimento da espécie desses locais.

 

 

 ESTRATÉGIA DO INSTITUTO CHICO MENDES: PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DO PATO-MERGULHÃO

Os Planos de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção ou do Patrimônio Espeleológico (PAN) são políticas públicas, pactuadas com a sociedade, que identificam e orientam as ações prioritárias para combater as ameaças que põem em risco populações de espécies e os ambientes naturais e assim protegê-los. Em 2017 foi elaborado o Segundo Ciclo do Plano de Ação Nacional para a Conservação do pato-mergulhão, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade/Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (ICMBio/CEMAVE). O Plano possui quatro Objetivos Específicos e 30 ações e sua execução está prevista até 2022. É acompanhado por um Grupo de Assessoramento Técnico (GAT) composto por membros oriundos de instituições governamentais e não governamentais que acompanham a implementação do Plano e realizam monitorias anuais. Para saber mais, visite: http://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/plano-de-acao-nacional-lista/2732-plano-de-acao-nacional-para-a-conservacao-do-pato-mergulhao.

 Pato-mergulhão - familia. Foto: Sávio Freire Bruno

 

PROGRAMA de MANEJO POPULACIONAL INTEGRADO

Tem por objetivo básico a reprodução do pato-mergulhão em cativeiro, de forma a possibilitar a destinação de filhotes para reintrodução e revigoramento populacional. O intuito é repovoar áreas onde a espécie ocorreu no passado. Com um total de 21 indivíduos, sendo seis casais em fase reprodutiva, o Zooparque Itatiba/SP é a única instituição no mundo que mantém a espécie atualmente. Em agosto de 2017, nasceram os primeiros filhotes originários de casal mantido sob cuidados humanos, um sucesso inédito para a espécie. Os animais são mantidos em recintos fora da área de visitação do zoológico, com área de 100 m2 pra cada casal, lagoa artificial de água corrente, vegetação e ninho em tronco de madeira. São monitorados por câmeras 24 horas por dia. A alimentação é balanceada com ração e alevinos de lambaris vivos colocados nas lagoas para estimular o comportamento natural da espécie. Para saber mais, visite: http://zooparque.com.br/comservacao/associacao-natureza-do-futuro.

 

Primeira reprodução em cativeiro. Foto: Alexandre N. Armando  Filhte em vida livre. Foto: Sávio Freire Bruno

 

DESAFIOS FUTUROS

O sucesso da reprodução do pato-mergulhão em cativeiro reforça nossa esperança de salvar a espécie da extinção e demonstra a importância dessa ferramenta como estratégia de conservação. Acreditamos que o desafio mais premente, no momento, seja o levantamento de áreas naturais conservadas e protegidas, cujas águas tenham as características necessárias para abrigar jovens indivíduos dessa espécie.

Pato-mergulhão voando. Foto: Sávio Freire Bruno

A integridade dos ecossistemas aquáticos, especialmente os rios de água doce, córregos e nascentes das bacias hidrográficas são áreas importantes para alimentação, reprodução e refúgio das populações remanescentes do pato-mergulhão. É claro que qualquer mudança nesses ambientes afetará a espécie de forma direta e imediata.

É vital ainda priorizar ações de pesquisa, monitoramento e sensibilização ambiental. Ao mesmo tempo, é urgente a implantação de medidas de conservação para o bioma Cerrado e de uma política adequada para uso de seus recursos naturais, a fim de reverter a séria situação de declínio e a possível extinção do pato-mergulhão, nosso Embaixador das Águas Brasileiras.

 

 

APOIO

O trabalho do ICMBio conta com o apoio e parceria das seguintes Instituições:

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