Pesquisas em Andamento

PROJETOS

          Considerando que as espécies de grande porte constituem um grupo apropriado para avaliar a representatividade de áreas protegidas para a conservação da biodiversidade e que podem ser utilizadas para estabelecer zoneamento específico e planos para as UC, os objetivos deste projeto são: 1. continuar o esforço de inventário de aves e mamíferos de médio e grande porte nas UC da Ararinha Azul iniciado em 2017; 2. acessar a probabilidade de ocupação (proporção de área ocupada por uma espécie) de mamíferos e aves terrestres de médio e grande porte, incluindo espécies ameaçadas ou quase ameaçadas e potenciais predadores de psitacídeos.

        Para o levantamento da fauna terrestre de médio e grande porte da região serão utilizadas 28 armadilhas fotográficas automáticas disparadas por calor e movimento (câmeras Bushnell Essential E2 e Bushnell Trophy Cam HD do Projeto Ararinha na Natureza - ICMBio/CEMAVE). Estas câmeras serão dispostas em armadilhas fotográficas em 60 pontos em três matrizes (ou seja, três momentos diferentes), com densidade de uma câmera a cada 2 km2, por pelo menos 30-45 dias consecutivos em duas a três matrizes, seguindo-se o protocolo TEAM para a amostragem. As armadilhas fotográficas serão instaladas em trilhas de caçadores e de animais, bem como no leito de riachos, a 30-40 cm do solo, programadas para fazer registros a intervalos mínimos de 5 min com 2 ou 3 fotos por disparo e funcionando 24 h. Os indivíduos registrados serão identificados em nível de espécie ou gênero utilizando-se o software Wild.ID, desenvolvido pelo TEAM (www.teamnetwork.org/solution), separando-se as fotografias de espécies isoladas ou agrupadas como eventos fotográficos. Os dados serão exportados em arquivo .csv para as análises posteriores.

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          O processamento dos dados será realizado por meio de scripts no programa R. Com os registros obtidos através das armadilhas fotográficas será possível estimar um índice de abundância relativa (RAI, Relative Abundance Index), ou sucesso de captura. Esse índice será medido como a razão entre o número de registros independentes da espécie focal e o esforço amostral total empregado (câmeras-dia) multiplicado por 100. Embora essa medida deva ser interpretada com cautela por ser passível de viés por diferentes fatores, ela pode ser um parâmetro relevante para comunidades com escassez de informações populacionais. A modelagem de ocupação possibilita investigar quais fatores podem explicar a ocupação da espécie, sejam eles antrópicos ou ambientais. Com base na literatura, serão definidas covariáveis ambientais e antrópicas potencialmente capazes de explicar o padrão de ocorrência de grandes e médios vertebrados na região de distribuição histórica da ararinha-azul. Antes das análises, a relação entre as covariáveis utilizadas será avaliada através do coeficiente de correlação de Pearson e covariáveis com r > |0,7| serão excluídas da modelagem.

          A ocupação, entendida como a proporção de uma área, locais ou manchas ocupadas por uma espécie ou grupo focal é um parâmetro populacional cada vez mais utilizado para investigar e monitorar o status de populações animais, uma vez que não exige a individualização dos espécimes, ao mesmo tempo que corrige vieses de detecção imperfeita e permite a modelagem de covariáveis preditoras. Para modelar a ocupação e detecção dos vertebrados terrestres neste estudo, serão utilizados modelos de uma única estação (single season models), que pressupõem uma ocupação constante durante o curto período de amostragem em cada local (site). Serão construídos os históricos de detecção (1) e não-detecção (0) de cada espécie ao longo do período amostral. Todas as covariáveis contínuas serão normalizadas antes da modelagem. O Critério de Informação de Akaike para pequenas amostras (AICc) será utilizado para o ranqueamento dos modelos. Serão considerados ajustados modelos com ΔAICc < 2. O peso acumulativo (∑w) das covariáveis será utilizado para avaliar a importância relativa das mesmas, sendo consideradas importantes aquelas covariáveis com ∑w ≥ 0,50. O sentido do efeito das covariáveis será aferido graficamente e através da avaliação dos respectivos coeficientes (ß). Modelos aninhados com diferença de ΔAICc < 2 serão excluídos para evitar covariáveis não informativas.

Responsável: Camile Lugarini (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linhas de pesquisa 1 e 5

          A falta de padronização nas metodologias de monitoramento tem trazido dificuldades para comparações entre áreas e mesmo para comparações da mesma área quando diferentes esforços de amostragem são empregados ao longo do tempo. De forma a propor uma padronização de protocolos para grupos taxonômicos representativos, o Programa Monitora vem construindo com a comunidade acadêmica um amplo portfólio de métodos a fim de atender este objetivo. Sendo assim, para comunidades de aves florestais em unidades de conservação federais é proposto o método preconizado em Bispo et al. (2016). O método baseia-se em 36 estações fixas distribuídas igualmente em três transecções. Cada estação é distante 200 metros da seguinte e são amostradas entre os 20 minutos que antecedem o nascente até 3 horas após. Nas amostragens, a cada estação fixa, são registrados todos os contatos com aves, sejam auditivos ou visuais, a uma distância inferior a 50 metros por 10 minutos. Cada estação fixa é amostrada cinco vezes por campanha. Entreas diversas UCs federais do Brasil, a Reserva Biológica do Gurupi foi escolhida para ser a pioneira na aplicação deste método.

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          Em 2017 inicia-se o monitoramento avançado de aves na Rebio do Gurupi. O protocolo amostral segue o descrito em Bispo et al. (2016), com campanhas amostrais anuais intercaladas entre o verão e o inverno, de forma a observar também a magnitude da influência da sazonalidade sobre a comunidade de aves no Centro de Endemismo Belém.

          A Rebio do Gurupi é uma unidade de conservação de proteção integral com uma área de 271.000 ha, localizada nos municípios de Bom Jardim, Centro Novo do Maranhão e São João do Carú, no estado do Maranhão. A reserva é contígua a três áreas indígenas, Alto Turiaçu, ao norte, e Caru e Awa a oeste. Embora a unidade seja contígua a Terras Indígenas, o seu entorno é marcado por grandes pastagens e fragmentos florestais bastante impactados pelo corte seletivo e por eventuais incêndios. A própria unidade apresenta, ainda, grandes áreas alteradas por ocupação humana e queimadas.

         A Rebio do Gurupi é uma unidade de conservação de grande importância e singularidade. É a única unidade de conservação de proteção integral no extremo oriental da Amazônia ou Centro de Endemismo Belém, região a leste do rio Tocantins em contato com o oceano Atlântico, com a Zona dos Cocais e com o Cerrado. A unidade apresenta muitos endemismos e pelo menos 14 espécies de aves formalmente ameaçadas.

           Com três campanhas realizadas até então (em 2020 não houve amostragem devido ao Estado de Emergência em Saúde), cerca de 250 espécies de aves já foram registradas, ao longo de mais de seis mil registros. E novas ocorrências poderão ser adicionadas para a unidade. Após a quarta campanha os resultados que caracterizam a comunidade nesse momento inicial de seu monitoramento serão apresentados em forma de artigo científico.

Responsável: Marcos de Souza Fialho (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linhas de pesquisa 1 e 5

          O Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, nos municípios de Quissamã e Macaé, RJ, protege um conjunto de 18 lagoas costeiras, ecossistemas de restinga, dunas e praias arenosas com grande diversidade de espécies aquáticas e marinhas, incluindo espécies migratórias. É uma das áreas estratégicas do Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves Limícolas Migratórias, e um dos três parques nacionais brasileiros, junto com o Parque Nacional do Cabo Orange e o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, onde é feito o monitoramento das aves migratórias apoiado pelo Projeto CEMAVE/GEF Mar. A partir de dezembro de 2017 iniciou-se um cronograma de atividades em colaboração entre CEMAVE, NUPEM/UFRJ e USP, com apoio logístico do PNRJ/ICMBio, com o objetivo de monitoramento das aves migratórias e condução de estudos sobre a avifauna aquática do parque.

Projeto-Restinga-de-Jurubatiba

          O projeto está licenciado sob os registros SISBIO nº 42418-9 e SNA nº 3839 e tem como objetivos específicos: 1) capturar, marcar e investigar as aves migratórias no período de chegada ao Hemisfério Sul e de partida para o Hemisfério Norte; 2) avançar no conhecimento das aves aquáticas e uso dos habitat no Parque Nacional; 3) Contribuir na formação de recursos humanos para a pesquisa e conservação de aves, em especial nas técnicas de captura e marcação adotadas pelo CEMAVE/ICMBio para monitoramento de aves; 4) coletar amostras biológicas das aves para estudos virológicos, tróficos e de contaminantes, com condução liderada pelos parceiros nas universidades em projetos específicos; 5) gerar informação para a gestão do Parque Nacional para contribuir com os seus objetivos de conservação e uso público.

         São realizadas saídas de campo mensais para censos e expedições científicas anuais para captura de aves aquáticas com redes de neblina, coleta de amostras biológicas (sangue e penas) e marcação das aves para identificação e rastreamento. Já foram registradas 55 espécies de aves aquáticas, das quais 10 limícolas migratórias e 3 residentes. As observações e coletas estão associadas ao desenvolvimento de pesquisa de doutorado e a estudos específicos em desenvolvimento no NUPEM/UFRJ e USP. O período de coleta de dados em campo tem previsão de duração até o ano de 2021. Os resultados das observações em campo deverão gerar recomendações e orientações específicas para o programa de uso público do parque nacional.

Responsável: Danielle Paludo (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

 

Linhas de pesquisa 1 e 5

A maracanã-verdadeira (Primolius maracana) é o psitacídeo sintópico à ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) em termos ecológicos, pois compartilha micro-habitat, cavidades de nidificação e itens alimentares. Além disso, o último macho de ararinha-azul registrado formou um par com uma maracanã e um bando heteroespecífico. Portanto, a maracanã será utilizada neste estudo como espécie modelo no projeto piloto de reintrodução, a ser executado inicialmente com as maracanãs e, posteriormente, num grupo heteroespecífico com a ararinha-azul, os quais estão planejados para 2017 e 2019, respectivamente.

projeto-maracana-verdadeira-Camile

          Informações populacionais e ecológicas da espécie na região de Curaçá foram obtidas na década de 90, entretanto este conhecimento deve ser aprimorado para embasar as estratégias de conservação na região. Para a escolha do melhor local para a reintrodução será realizada uma modelagem dos dados obtidos com pontos fixos para detecção de psitacídeos, com a posterior análise da probabilidade de ocupação em um modelo multiestado. As covariáveis contínuas de paisagem serão relacionadas com a ocupação das áreas pela maracanã e outros psitacídeos para embasar a priorização das estratégias de conservação das áreas. Será realizada entrevista com a comunidade local, nas 207 unidades residenciais do polígono da proposta da unidade de conservação da ararinha-azul, a fim de identificar dormitórios coletivos de maracanãs próximos às fazendas, presença ou ausência de ninhos e ocos nas proximidades, atividades reprodutivas, áreas de concentração de psitacídeos e verificar a manutenção de psitacídeos como animais de estimação. Na ocasião desta entrevista também serão obtidas informações a respeito do impacto da captura ilegal na população local de maracanãs e de outros psitacídeos, a partir de questionários estruturados; e será realizada a colheita de amostras biológicas de psitacídeos em cativeiro.

         Para avaliação reprodutiva da maracanã, as características dos ninhos e o comportamento reprodutivo serão avaliados em três estações reprodutivas. Os ocos serão marcados e monitorados. Serão coletados múltiplos parâmetros reprodutivos, como tamanho da ninhada, período de incubação, sucesso de eclosão, sucesso de filhotes que saem do ninho e sucesso do ninho. Os filhotes dos ninhos monitorados serão capturados, contidos e realizada a colheita de material biológico para avaliação da saúde das maracanãs. Além disso, amostras de sangue serão acrescentadas às amostras obtidas a partir de espécimes de museus para traçar a variabilidade e estruturação genética da maracanã. Por último, será realizada uma modelagem de ocupação de predadores terrestres que podem interferir nas reintroduções planejadas. As informações biológicas, ecológicas, de ameaças e de saúde da espécie terão valor inestimável para traçar o plano operacional da reintrodução da maracanã e ararinha-azul na região e para a conservação de ambas as espécies.

Responsável: Camile Lugarini (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linha de pesquisa 3

          O monitoramento de aves por meio da telemetria pode ser desenvolvido para determinar a posição, movimentação, padrões de atividade e/ou parâmetros fisiológicos de animais à distância. A técnica mais utilizada para esse monitoramento é a telemetria por rádio ou satélite, utilizada para rastrear os movimentos de espécies de difícil observação, monitorar vários indivíduos ao mesmo tempo, além de oferecer o mínimo de interferência possível do observador. Esse procedimento se torna importante, principalmente, para o monitoramento de espécies ameaçadas deextinção, permitindo-se obter informações sobre sua área de vida, seu deslocamento, possibilitando maior controle sobre a localização dos indivíduos, bem como seus próprios hábitos.

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         Sendo assim, o trabalho visa monitorar um grupo de maracanãs (Primolius maracana), a fim de delimitar sua área de vida, o deslocamento e os locais de alimentação, tendo em vista que esta espécie será utilizada como modelo para embasar o projeto piloto de reintrodução da ararinha-azul (Cyanopsita spixii), espécie provavelmente extinta na natureza. Para o monitoramento, onze indivíduos de maracanã foram rastreados por meio da técnica de triangulação das retas traçadas, a partir da direção dos sinais transmitidos pelos rádio-colares fixados previamente até novembro de 2019. Foi preenchida uma ficha de campo com informações importantes para o banco de dados, os quais serão analisados a partir de bases estatísticas do programa R no segundo semestre deste plano de trabalho.

Responsável: Camile Lugarini (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linhas de pesquisa 1 e 7

          A presente pesquisa objetiva estudar as interações entre os seres humanos e as aves silvestres da Caatinga na APA e REVIS da Ararinha Azul, áreas rurais nos municípios de Curaçá e Juazeiro/Bahia, buscando caracterizar o contexto socioeconômico e cultural em que ocorrem tais relações, a fim de subsidiar estratégias de educação ambiental.Os dados serão obtidos por meio de entrevistas semiestruturadas conduzidas individualmente com todos os moradores das localidades alvo do estudo que se dispuseram a participar voluntariamente, mediante assinatura prévia de documento de autorização de coleta, utilização e publicação de dados, conforme exigido pela legislação brasileira (Resolução nº 466, de 12/12/2012, do Conselho Nacional Conselho de saúde do Brasil), tendo sua confidencialidade e direitos assegurados.

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          As entrevistas serão conduzidas de maneira informal para que o participante fique à vontade para respondê-la e por isso serão gravadas. Serão levantadas informações referentes ao perfil socioeconômico tais como: sexo, idade, grau de instrução, renda familiar, tempo de residência na localidade e informações relativas ao conhecimento e interação do indivíduo com a avifauna silvestre: lista livre das espécies conhecidas, conhecimento sobre o papel ecológico das espécies no meio ambiente e espécies de aves raramente vistas ou desaparecidas das comunidades. As aves citadas por meio de nomes populares serão identificadas pelos participantes através da confirmação de características morfológicas e/ou comportamentais e/ou relacionadas à vocalização.

          Para avaliar a influência dos fatores socioeconômicos nas interações com as aves, serão realizados testes de correlação e análises de regressão utilizando os modelos apropriados de acordo com a distribuição dos dados. O nível de significância estabelecido será de 0,05 e as análises serão feitas no programa "R statistics". Para analisar o valor de uso de cada espécie citada, será empregado um teste adaptado da proposta de Phillips et al. (1994) que permite determinar a importância relativa da espécie citada pelas populações locais, aplicando-se a fórmula (VU =ΣU/n), onde: VU = valor de uso da espécie; U = número de citações por espécie; n = número de informantes.

Responsável: Camile Lugarini (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linhas de pesquisa 2 e 8

          As fitofisionomias campestres são consideradas os ecossistemas mais ameaçados em todo o mundo, devido à perda de habitat combinada a um baixo grau de proteção. As aves especialistas de campos do Bioma Cerrado somam 117 espécies, e constituem a maioria das aves ameaçadas de extinção nesse bioma. Frente às ameaças e à necessidade de conservação das espécies de aves campestres e seus habitat, este projeto tem como objetivo geral avaliar se as Unidades de Conservação do Cerrado são capazes de abrigar populações viáveis de aves campestres, visando obter subsídios para a conservação das espécies e para a gestão das UCs. Será avaliada a estrutura genética das populações de diferentes espécies, a representatividade das Unidades de Conservação do Cerrado no que tange à ocorrência de espécies de aves campestres e a conectividade da paisagem para aves campestres nas diferentes UCs utilizando o Índice Integral de Conectividade (IIC). Também será avaliada a estrutura genética de algumas aves campestres em UCs selecionadas.

projeto-conservacao-aves-campestres

 Responsável: Renata Rossato (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Linhas de pesquisa 1, 2, 7 e 8

          No Brasil há uma grande lacuna de conhecimento sobre o tamanho populacional das espécies de aves. Essa é uma informação muito importante e tal situação dificulta a avaliação do real estado de conservação das aves brasileiras. Para muitas espécies avaliadas no país o critério "tamanho populacional" nem pode ser adotado, dada a inexistência desta informação, o que leva à aplicação de outros critérios como: distribuição geográfica, fragmentação e qualidade do habitat. A obtenção de estimativas de densidade populacional ao longo do tempo permite também identificar tendências populacionais e contribui para a avaliação da probabilidade de extinção de espécies.

Projeto-REBIO-Guaribas

         Este projeto tem como objetivo investigar a detectabilidade de aves ameaçadas do Centro de Endemismo Pernambuco (CEP) em alguns fragmentos florestais da Paraíba. Os dados obtidos pelas estimativas de densidade populacional das espécies contribuirão com o processo de avaliação do estado de conservação das aves brasileiras e com a ação 2.9 do Plano de Ação Nacional (PAN) para Conservação das Aves da Mata Atlântica.

          Ao longo de 10 anos realizaremos censos mensais nos fragmentos da REBIO Guaribas, Usina São João, REVIS Mata do Buraquinho, RPPN Gargaú e Mata da Sucupira. Em cada área serão percorridos dois transectos de 2 km a pé, no período de maior atividade das aves (entre 5:30 e 8:30 h), a uma velocidade constante (entre 1 e 1,5 km/h). Os avistamentos serão registrados com auxílio de binóculos e máquinas fotográficas, e as distâncias perpendiculares das aves detectadas em relação ao transecto serão obtidas com trena manual e trena a laser. Os dados serão coletados por Analistas Ambientais do CEMAVE, com a colaboração de integrantes do Programa de Voluntariado do ICMBio. Os resultados serão analisados no programa DISTANCE, versão 6.0, com a aplicação de diferentes filtros e funções matemáticas, até se obter a função de detecção que melhor represente as distâncias observadas em campo. O estudo é fomentado pelo ICMBio.

          Esperamos obter uma boa série de dados de densidade populacional das espécies-alvo, que poderá contribuir com as duas políticas públicas voltadas à conservação de aves mencionadas acima (PAN das Aves da Mata Atlântica e Avaliação de Espécies Ameaçadas). Além disso, trata-se de um projeto de baixo custo e de longo prazo, que possibilitará comparar as densidades populacionais das espécies estudadas na escala temporal (nos mesmos fragmentos) e espacial (com outros fragmentos de Mata Atlântica fora da UCs).

Responsável: Diego Mendes Lima (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linhas de pesquisa 1, 2, 5 e 7

          Vários aspectos do monitoramento da avifauna são ótimas ferramentas para avaliar a efetividade de uma Unidade de Conservação (UC) na preservação e manutenção da biodiversidade. Diferenciar a idade e o sexo das aves é importante para o monitoramento populacional em longo prazo, como forma de compreender a variação na sobrevivência, no uso do habitat e no sucesso reprodutivo das diferentes classes etárias e/ou sexuais. Assim, propomos a utilização em larga escala de um sistema categórico de classificação por idade e sexo para aves neotropicais em UC de diferentes categorias, com base na identificação de ciclos de muda e suas plumagens.

projeto-mudas-camile

          As aves serão capturadas com redes de neblina instaladas periodicamente nas áreas de amostragem em cinco UC's do litoral de Santa Catarina. Após a captura, os indivíduos serão marcados com anilhas CEMAVE, os parâmetros anotados em planilhas padronizadas, identificados idade e sexo, assim como o seu ciclo de muda, e por fim, colhidas amostras biológicas de sangue para posteriormente serem confirmadas as sexagens por meio de técnica de PCR. As aves, assim que processadas, serão soltas no mesmo local de amostragem. A idade de cada indivíduo amostrado corresponderá ao seu respectivo estágio de ciclo de vida, que será determinado de acordo com o início de uma muda de penas básica, que é anual, até o início de outra. Este estudo poderá aperfeiçoar os protocolos de monitoramento da avifauna terrestre como indicadores da biodiversidade em UC's da Mata Atlântica do sul do país com comunidades de aves similares.

Responsável: Camile Lugarini (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linha de pesquisa 1, 5, 6 e 7

          O projeto visa ampliar o conhecimento sobre os parâmetros populacionais e sanitários de espécies de aves campestres contempladas no Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves dos Campos Sulinos, com ênfase para o cardeal-amarelo (Gubernatrix cristata), espécie criticamente ameaçada de extinção no Brasil. Atualmente a única população conhecida da espécie no país limita-se ao Parque Estadual do Espinilho e entorno, onde existem hoje menos de 100 indivíduos. Baseado em evidências, uma população diminuta pode ainda permanecer na Serra do Sudeste (Rio Grande do Sul), onde acreditava-se que a espécie estava extinta localmente. O presente projeto também envolve expedições de prospecção para esta região.

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          Basicamente a pesquisa constituiu-se de estudo populacional, epidemiológico e de prevalência das doenças de Passeriformes que ocorrem naturalmente nos Campos Sulinos, com ênfase no criticamente ameaçado de extinção cardeal-amarelo, cuja necessidade de manejo integrado para a conservação da espécie tem sido avaliada. Populações manejadas de Gubernatrix cristata mantidas sob cuidados humanos vinculadas ao Programa de Cativeiro para a recuperação da espécie coordenado atualmente pela AZAB também são analisadas, a fim de estabelecer seu estado sanitário e reprodutivo atual nos ambientes in situ e ex situ. A sanidade das aves é investigada com exames hematológicos e pesquisa de agentes infecciosos por técnicas de biologia molecular (PCR e posterior sequenciamento). O desenvolvimento da pesquisa (captura, identificação das aves, seus territórios, bem como coletas de amostras) dos Passeriformes de vida livre dos Campos Sulinos ocorre nos município de ocorrência natural do cardeal-amarelo, no qual a população vem sendo monitorada (ex. Barra do Quaraí), e também em Lavras do Sul/RS, onde o método de busca aleatória nas áreas potenciais de ocorrência de cardeais-amarelos também integra a metodologia de estudo em campo. Esta pesquisa é realizada em parceria com as seguintes instituições: PUC RS, UFPR, USP, FURG, MCN/SEMA RS, SEMA RS (Parque Estadual do Espinilho).

          Os resultados obtidos visam a elaboração de base de dados para avaliação da saúde das populações, incluindo parâmetros demográficos, hematológicos, bioquímicos e microbiológicos da espécie criticamente ameaçada de extinção Gubernatrix cristata, em vida livre e em cativeiro, além de investigar a saúde de populações de Passeriformes em áreas previstas para potencial soltura experimental da espécie (manejo integrado para a conservação). Esta pesquisa gera valores de referência para o monitoramento e avaliações futuras dessas aves campestres, além de potencialmente embasar decisões de manejo do Programa de Cativeiro do Cardeal-amarelo (reintrodução, revigoramento populacional, pareamentos, entre outras), contribuindo nas iniciativas de conservação previstas no Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves Ameaçadas dos Campos Sulinos.

          Informações demográficas e sanitárias estão subsidiando o desenvolvimento da tese de doutorado de parceira da Universidade Federal do Paraná (Bianca Resseti Silva).

Responsável: Patrícia Pereira Serafini (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linhas de pesquisa 3, 5 e 6

           De acordo com as metas de Aichi, pactuadas pelo Brasil para a conservação da biodiversidade, o monitoramento sistemático da nossa biodiversidade se faz necessário, pois as ferramentas disponíveis atualmente fazem com que as decisões de conservação sejam tomadas baseadas em mudanças e tendências observadas nas populações silvestres. As aves e mamíferos são bons indicadores da qualidade de ambientes tropicais e seu declínio pode provocar inúmeros efeitos em cascata para o ecossistema.

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          O estabelecimento de um programa de monitoramento exige a elaboração e aperfeiçoamento de protocolos para a execução padronizada, permitindo a comparação temporal e espacial dos dados em diferentes escalas. Neste projeto, propomos um arranjo de protocolos com a finalidade de monitorar a biodiversidade, com ênfase em mamíferos e aves, em unidades de conservação (UC) de diferentes categorias. Os objetivos específicos são: implantar o monitoramento da biodiversidade em UCs e formar uma rede de colaboradores; avaliar a efetividade das UCs regionalmente; caracterizar a avifauna e mastofauna e avaliar a tendência de populações nas UCs selecionadas; utilizar índices de riqueza, abundância, ocupação e Wildlife Picture Index (WPI) de espécies indicadoras, ameaçadas e sensíveis para acessar o estado de conservação localmente e periodicamente; testar os protocolos de monitoramento do ICMBio em diferentes fitofisionomias, por meio de uma rede de pesquisadores, ornitólogos, estudantes e voluntários; e reconhecer os padrões, estratégia e extensão de muda para espécies de aves de Santa Catarina para determinar a idade das aves, subsidiando o monitoramento.

Responsável: Camile Lugarini (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linha de pesquisa 1, 5 e 7

          O projeto visa ampliar o conhecimento sobre os parâmetros populacionais, sanitários e reprodutivos atuais das espécies de aves marinhas em algumas das áreas-chave para as populações ameaçadas no país. Este projeto envolve tanto aves marinhas ameaçadas que se reproduzem em ilhas oceânicas brasileiras, quanto aves da ordem Procellariiformes que se reproduzem em ilhas oceânicas fora do território brasileiro, mas por sua característica migratória, utilizam o país durante parte de seu ciclo biológico.

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          Para a maioria das Unidades de Conservação (UCs) federais insulares envolvidas neste projeto de pesquisa a metodologia básica inclui a contagem de ninhos seguindo metodologia publicada por Mancini et al. (2016). Quando a fenologia das espécies de aves marinhas já é compreendida para a UC, o esforço amostral inclui a contagem ao menos anual, coincidindo com o período de maior atividade reprodutiva. Parâmetros sanitários, de prevalência de plástico nas aves e outras informações demográficas e fisiológicas (obtidas através do anilhamento/recuperação de marcadores, registro de padrões de mudas de penas, e outros) também fazem parte das análises previstas nesta pesquisa, a ser realizada em longo prazo por tratar-se de monitoramento contínuo dos parâmetros escolhidos. Esta pesquisa é conduzida pelo CEMAVE desde 2010, e tem sido possível com o trabalho conjunto de várias instituições: FURG, UFRGS, PUC RS, UFAL, USP, MNRJ (UFRJ), UNB, R3 Animal, Projeto Albatroz, equipes das UCs do ICMBio e outras.

         Os resultados obtidos contribuirão para subsidiar medidas de proteção à essas espécies nas ilhas onde se reproduzem, bem como avaliar o impacto e influência das ameaças já identificadas com as quais convivem. Os dados obtidos com o monitoramento em longo prazo complementam as informações necessárias para a avaliação do estado de conservação das populações estudadas e são cruciais para subsidiar ações de conservação e decisões de gestão ou manejo nas UCs.

Informações demográficas e sanitárias publicadas a partir de dados obtidos deste trabalho contínuo:

I. Hurtado, R. H., Serafini, P. P., Vanstreels, R. E. T., Olsen, K. M., & Durigon, E. L. (2012). Northernmost record of Brown Skua Stercorarius antarcticus (Lesson 1831) at Maranhão state, northern Brazil. Boletín Chileno de Ornitología, 18(1-2), 52-56.;

II. Ometto, T., Durigon, E. L., De Araujo, J., Aprelon, R., de Aguiar, D. M., Cavalcante, G. T., ... & Neto, I. S. (2013). West nile virus surveillance, Brazil, 2008–2010. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 107(11), 723-730.;

III. Livro Vida marinha de Santa Catarina / organizador Alberto Lindner. – Florianópolis: Ed. da UFSC, 2014. 128 p;

IV. Vieira, B. P., Dias, D., Rocha, H. J. F., & Serafini, P. P. (2015). Birds of the Arvoredo Marine Biological Reserve, southern Brazil. Check List, 11(1), 1532.;

V. Leal, G. R., Serafini, P. P., Simão-Neto, I., Ladle, R. J., & Efe, M. A. (2016). Breeding of White-tailed Tropicbirds (Phaethon lepturus) in the western South Atlantic. Brazilian Journal of Biology, 76(3), 559-567.;

VI. Mancini, P. L., Serafini, P. P., & Bugoni, L. (2016). Breeding seabird populations in Brazilian oceanic islands: historical review, update and a call for census standardization. Ornithology Research, 24(2), 94-115.;

VII. Vieira, B. P., & Serafini, P. P. (2016). GUIDELINES FOR MANAGING SEABIRDS IN THE ARVOREDO MARINE BIOLOGICAL RESERVE, SOUTHERN BRAZIL. Biodiversidade Brasileira, (1), 174-189.;

VIII. MICHELETTI, T.; FONSECA, F.S.; MANGINI, P.R.; SERAFINI, P.P; et al. 2020. Terrestrial Invasive Species on Fernando de Noronha Archipelago: What We Know and the Way Forward. In: LONDE, V. (Ed) Invasive Species: Ecology, Impacts and Potential Uses. 1. ed. New York: Nova Science Publishers. Cap. 3, p. 51-94. ISBN: 978-1-53617-890-6.;

IX. SARAIVA, M.M.S.; LEON, C.M.C.G.; SILVA, N.M.V.; RASO, T.F.; SERAFINI, P.P.; GIVISIEZ, P.E.N.; GEBREYES, W.A.; OLIVEIRA, C.J.B. 2020. Staphylococcus sciuri as a Reservoir of mecA to Staphylococcus aureus in Non-migratory Seabirds from a Remote Oceanic Island. MICROBIAL DRUG RESISTANCE. Mary Ann Liebert, Inc. DOI: 10.1089/mdr.2020.0189.

Responsável: Patrícia Pereira Serafini (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linhas de pesquisa 1, 2, 5, 6, 7 e 8

          Devido ao acentuado declínio populacional das aves limícolas migratórias, o Brasil ratifica acordos e esforços internacionais para a sua conservação e elaborou, em 2012, um Plano de Ação Nacional para a Conservação das Aves Limícolas Migratórias. O plano previu, entre outras, ações de pesquisa para 27 espécies de aves limícolas que ocorrem no Brasil. Entre 2016 e 2020 o CEMAVE desenvolveu um projeto em parceria com a New Jersey Audubon Society e a Conserve Wildife Foundation para viabilizar expedições científicas na costa norte e nordeste brasileira com o objetivo de pesquisa e monitoramento das aves limícolas, com enfoque nas espécies contempladas no PAN Aves Limícolas Migratórias e nas unidades de conservação federais, envolvendo universidades, instituições de pesquisa e colaboradores. O projeto foi desenvolvido sob a licença SISBIO nº 42418, Portarias MCTI Nº 163/2016 e Nº 2.108/ 2018 e SNA nº 3839.

projeto monitoramento limícolas

         Através de expedições de campo para captura de aves limícolas com redes de neblina e de canhão, foram conduzidas atividades de coleta de amostras biológicas (sangue e penas) e marcação das aves para identificação e rastreamento posterior nos estados do AP, PA, MA e CE. A busca e censo das aves limícolas em diferentes localidades e a associação com as características ambientais foram utilizadas para modelagens e identificação de habitat prioritários nas reentrâncias maranhenses (MA) e região bragantina (PA). Centenas de aves foram marcadas com anilhas e bandeirolas e dezenas com geolocalizadores, o que permite o seu monitoramento através das recuperações.

          As amostras biológicas, parcialmente processadas, vêm contribuindo com o conhecimento de aspectos nutricionais e da contaminação das aves em estudos integrados com diferentes colaboradores, e as modelagens contribuíram com a identificação de hotspots para as aves limícolas e vêm auxiliando no detalhamento das áreas prioritárias para a conservação no Brasil.

         As expedições científicas deste projeto encerraram-se em fevereiro de 2020 e as amostras e dados já coletados estão em fase de processamento e publicação. O monitoramento das aves nas unidades de uonservação federais está sendo continuado com o projeto CEMAVE/GEF Mar de Monitoramento de Aves Limícolas, e em projetos específicos desenvolvidos por instituições parceiras.

Responsável: Danielle Paludo (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linhas de pesquisa 1, 5, 7 e 8

          Coordenado pelo CEMAVE, o monitoramento populacional (censo) da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) tem como objetivo principal estimar o número de aves na natureza. É um dos mais longos projetos de monitoramento de aves ameaçadas no país e vem sendo realizado de forma sistemática, anualmente, desde a criação do Programa de Conservação e Manejo da Arara-azul-de-Lear, em 2001. O engajamento social na conservação dessa ameaçada ave e do seu ambiente é a engrenagem principal deste projeto, que já contou com a participação de mais de 150 colaboradores e voluntários, muitos deles da própria região de ocorrência da espécie. Com os resultados desse projeto avaliamos a tendência populacional e a efetividade das ações de conservação aplicadas, na expectativa de que esta população continue a prosperar.

projeto-monitoramento-arara-azul-lear

 Responsável: Antônio Eduardo Araújo Barbosa (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linha de pesquisa 5

          A ilha da Trindade abriga espécies e ambientes insulares únicos no mundo e, portanto, é considerada um hotspot de biodiversidade no sudoeste do Oceano Atlântico. No entanto, a introdução de espécies exóticas invasoras e incêndios ocorridos nos últimos séculos comprometeram o ecossistema terrestre da ilha. A vegetação sofreu um severo impacto negativo a partir da introdução de plantas, porcos e cabras, e do uso do fogo, que alteraram a paisagem e devastaram florestas e pteridófitas endêmicas. Com a destruição das árvores, aves marinhas ameaçadas como o atobá­-de-­pés­vermelhos (Sula sula), extinto localmente, e as endêmicas criticamente ameaçadas (CR) fragata­-de­-Trindade (Fregata trinitatis) e fragata-­grande (Fregata minor nicolli), que utilizavam a vegetação arbórea para nidificação, já não são vistas se reproduzindo no local há décadas. As peculiaridades do ambiente insular, ao mesmo tempo que aumentam a biodiversidade através do isolamento geográfico, potencializam ameaças introduzidas repentinamente. Esse é o caso de Mus musculus, camundongo exótico com alto potencial invasor, que chegou à ilha da Trindade através dos porões de embarcações e, atualmente, ocorre com grande abundância na ilha, inclusive nas áreas reprodutivas da grazina-de­Trindade (Pterodroma arminjoniana ­ CR). Nesse contexto, o presente projeto visa recuperar condições naturais da ilha existentes previamente à colonização humana, através do fortalecimento e união de instituições envolvidas na conservação da ilha da Trindade, e do essencial apoio da Marinha do Brasil através do PROTRINDADE.

projeto-reter-trindade-serafini

          Entre as principais ações previstas neste projeto está o fornecimento de ninhos artificiais para reprodução das fragatas endêmicas e do atobá-de-pé-vermelho na ilha da Trindade. Serão instalados 40 ninhos artificiais para aves marinhas em locais de maior potencial identificados (através do mapeamento dos solos ornitogênicos). Também está prevista a avaliação do impacto e de ações de controle de espécies exóticas invasoras. Estão sendo analisadas as relações tróficas dos camundongos na ilha da Trindade, estimada a contribuição da flora nativa para sua dieta e testados métodos para estimar sua densidade e distribuição. A identificação das espécies vegetais exóticas na Ilha da Trindade, bem como o mapeamento da distribuição espacial a fim de subsidiar sua remoção mecânica também fazem parte deste trabalho, notadamente de espécies exóticas com elevado potencial invasor. Têm sido monitoradas ainda as populações de aves marinhas ao longo da Cadeia Vitória-Trindade (CVT) e na ilha da Trindade, informações com potencial para subsidiar o estabelecimento (zoneamento e gestão) das Unidades de Conservação criadas ao longo da CVT (APA) e da ilha da Trindade (MONA). Estão sendo realizadas também cinco (5) expedições para marcação e recaptura de aves marinhas com anilhas metálicas com foco em Pterodroma arminjoniana e Gygis alba. Por fim, para determinação do status taxonômico da fragatas endêmicas e ameaçadas da Ilha da Trindade, serão analisadas sequências gênicas e calculadas métricas de diferenciação populacional das fragatas da ilha de Trindade em relação a uma população conspecífica do Oceano Pacífico e uma do Oceano Índico utilizando material biológico de no mínimo dez (10) F. trinitatis e dez (10) F. m. nicolli. O Programa RETER-Trindade tem o CEMAVE como parte da equipe desde sua concepção, é coordenado pela FURG e tem sido possível com o trabalho em conjunto com várias instituições, tais como UFRGS, UFAL, UnB, MNRJ (UFRJ), equipes das UCs do ICMBio e outras.

          Os resultados obtidos contribuirão para subsidiar e testar a efetividade de medidas de proteção e manejo para a conservação das espécies ameaçadas na ilha da Trindade, bem como avaliar o impacto e influência das ameaças já identificadas com as quais convivem. Os dados obtidos com o monitoramento em longo prazo complementam as informações necessárias para a avaliação do estado de conservação das populações estudadas e trazem dados cruciais para subsidiar a continuidade de ações de conservação e decisões de gestão ou manejo nas UCs (MONA das Ilhas de Trindade e Martim Vaz e do Monte Columbia, APA do Arquipélago de Trindade e Martim Vaz).

Responsável: Patrícia Pereira Serafini (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linhas de pesquisa 1, 2, 3 e 7

          É amplamente conhecido que a disponibilidade de cavidades em árvores de grande porte pode restringir a capacidade reprodutiva de aves que nidificam em ocos e, consequentemente, limitar suas populações. Espécies invasoras como roedores, marsupiais e insetos sociais, ou até mesmo outras espécies de aves, podem provocar um impacto importante no estabelecimento das populações naturais. A invasão de abelhas africanizadas (Apis mellifera) decorrente de atividades não controladas de apicultura já resultou em declínio populacional de espécies de abelhas nativas ao redor do mundo, até mesmo levando algumas espécies à extinção local. Ao ocuparem ocos de árvores, essas abelhas exóticas podem impactar negativamente o nicho reprodutivo de algumas aves silvestres ou, ainda, alterar o nicho alimentar, reduzindo a variabilidade e qualidade das presas das aves que se alimentam de insetos, devido ao declínio ou à extinção local de populações de abelhas nativas (Meliponas).

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          Nesse contexto, destacamos duas espécies globalmente ameaçadas de extinção e endêmicas da Caatinga, a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) e a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), que são alvo de ações prioritárias de conservação conforme os Planos de Ação Nacionais para conservação de espécies ameaçadas. Acessando a competição por cavidades em paredões usados para nidificação pela arara-azul-de-lear, a equipe liderada pela pesquisadora Erica P. de Assis observou mais de 100 colmeias de abelhas africanizadas invasoras nas áreas de reprodução destas araras. A abundância de colmeias de abelhas africanizadas ultrapassa em dez vezes o número de ninhos de araras-azuis-de-lear nas suas áreas de ocorrência históricas recentemente recolonizadas após o crescimento da população registrado na ecorregião do Raso da Catarina. Isso indica, portanto, que as áreas potenciais para a dispersão da população estão comprometidas, pois os recursos reprodutivos (cavidades) estão saturados. Em outro projeto envolvendo as unidades de conservação da ararinha-azul, se registrou 234 potenciais árvores-ninho, isto é, árvores com cavidades e com potencialidade para a reprodução de maracanã-verdadeira (Primolius maracana) na Área de Proteção Ambiental e no Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha Azul. Do total de árvores com ocos registradas, somente 27 (11,5%) estavam ocupadas por maracanãs, e destas, sete (25,9%) eram compartilhadas por maracanãs, abelhas invasoras e/ou abelhas nativas. Além disso, 20 árvores (8,5%) estavam ocupadas por A. mellifera e/ou Trigona fuscipennis/spinipes.

          Identificar e descrever a sobreposição de nicho reprodutivo potencialmente causada pela presença de abelhas africanizadas invasoras é uma ação de conservação proposta pelo PAN das Aves da Caatinga. Além disso, está prevista no Plano de Ação Nacional para a Conservação da Ararinha-azul a ação 4.7 "Realizar controle da espécie exótica invasora Apis mellifera em potenciais ninhos de psitacídeos em ocos de árvores, principalmente na área de soltura da ararinha-azul". Esta pesquisa poderá indicar a necessidade de ações de manejo (remoção e erradicação de colmeias das áreas infestadas) e as localidades prioritárias para sua realização, a fim de incrementar a qualidade do habitat e favorecer o recrutamento reprodutivo dos psitacídeos ameaçadas da Caatinga. Assim, os objetivos específicos desse estudo são: 1) avaliar o grau de infestação de ambientes florestais e mata ciliar de Caatinga por abelhas africanizadas; 2) avaliar a diversidade de aves que utilizam ocos de árvores nesses ambientes como recurso reprodutivo; 3) investigar a ocorrência de sobreposição de nicho reprodutivo entre abelhas africanizadas invasoras e algumas espécies de aves da caatinga; 4) definir o status de conservação dos habitats com base nas perturbações antrópicas encontradas; 5) indicar áreas prioritárias para o manejo (remoção ou erradicação) de abelhas africanizadas invasoras, a fim de aumentar a quantidade e qualidade do habitat, considerando a disponibilidade de recursos reprodutivos e alimentares para as aves no local

Responsável: Camile Lugarini (O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.)

Linha de pesquisa 2