UM DOS ÚLTIMOS REFÚGIOS PARA AS ONÇAS-PINTADAS NA MATA ATLÂNTICA

O Parque Nacional do Iguaçu abriga uma das mais importantes populações de onças-pintadas da Mata Atlântica.  

     O Projeto Onças do Iguaçu é desenvolvido em parceria do Parque Nacional do Iguaçu com o CENAP e o Instituto Pró Carnívoros, através de um termo de Cooperação firmado em 2020 e diversos outras instituições colaboradoras.

     Onças não conhecem fronteiras, e o Rio Iguaçu, que separa Brasil e Argentina, conecta áreas importantes para esses animais. E se temos onças circulando lá e cá, temos também um exemplo muito bacana de como dois projetos e dois países podem unir esforços para salvar uma espécie. Trabalhamos em parceria estreita com o Proyecto Yaguareté, da Argentina, que há 20 anos trabalha com a conservação da espécie no país.

                                                  inatalação câmeras - crédito arquivo Projeto Onças do Iguaçu

Imagem 1: instalação de câmeras de monitoramento. Acervo: Projeto Onças do Iguaçu (PNI/ICMBio).

 

     O Projeto Onças do Iguaçu tem três linhas principais de ação: pesquisa, engajamento e coexistência das comunidades lindeiras ao parque com grandes felinos.

    Em 2020, um ano de pandemia e de muitas dificuldades, o projeto conseguiu trabalhar duro e produzir resultados significativos.

                                                  Instalação de câmeras para censo - crédito arquivo Projeto Onças do Iguaçu - crédito arquivo Projeto Onças do Iguaçu

    Imagem 2: Instalação de câmeras para censo. Acervo: Projeto Onças do Iguaçu (PNI/ICMBio).

Em 2020 foram realizadas quase 72 mil horas de esforço de amostragem, e tivemos mais de 4 mil registros de animais de 37 espécies. Foram feitos 176 registros de 26 onças-pintadas, sendo 15 delas onças observadas pela primeira vez.

    Monitoramos de perto a população de onças-pintadas no Parque Nacional, através de um censo bianual e binacional, envolvendo as equipes do Projeto Onças do Iguaçu e do Proyecto Yaguareté. Esse é o maior esforço mundial (em tempo e área) para monitorar onças-pintadas: já são 10 anos de monitoramento, e a área amostrada nos dois países, conhecida como Corredor Verde, é de cerca de 600.000 hectares.

     E 2020 foi ano de censo! Foram mais de três meses de amostragem, em 65 pontos espalhados no Parque Nacional. Os dados estão sendo analisados em conjunto com o Proyecto Yaguareté, e o resultado deve sair até julho. Dedos cruzados!

     Em 2019, capturamos e colarizamos um macho de onça-pintada de 81 kg, Tarobá. Durante 263 dias, ele foi monitorado via satélite e gerou dados importantes. Em março de 2020 perdeu a coleira, que foi recuperada pelo projeto, e gerou dados muito importantes: ele tem uma área de vida de 227 Km2, um território de 51 Km2 e se desloca cerca de 9,5 Km por dia. Nunca deixou a área do Parque Nacional do Iguaçu.

                                                Onça-pintada Tarobá no momento da captura - crédito Emílio White

Imagem 3: Onça-pintada Tarobá no momento da captura. Acervo: Projeto Onças do Iguaçu (PNI/ICMBio).

     Estamos conduzindo pesquisa sobre a base de presas de onças-pintadas no Parque Nacional. Foram utilizados 60 pontos amostrais (grid 1 Km²), distribuídos em 3 linhas de 20 pontos, por um período de 3 meses. A cada ano, 2 coletas serão realizadas, durante as estações seca e chuvosa. Em 2020, realizamos apenas uma amostragem, devido à COVID e ao Censo 2020, e tivemos resultados interessantes. As espécies mais abundantes foram cutia, gambá e veado.

     Através de inúmeras ações contínuas com as comunidades dos 14 municípios lindeiros ao Parque Nacional, procuramos transformar esse medo em encantamento, conseguir engajamento. Fácil? De jeito nenhum. O medo é muito forte, e geralmente baseado muito mais em crenças do que em fatos. Embora as ações de engajamento que envolvem reunir pessoas só tenham acontecido no iníco do ano, ante das pandemia, elas atingiram mais de 10 mil pessoas. Após o início da pandemia continuamos a visitar as propriedades lindeiras o parque. Foram 191 visitas em 2020, além de palestras virtuais, participação em lives e entrevistas em rádios.

    Para promover a coexistência entre moradores lindeiros e grandes felinos, desenvolvemos, testamos e instalamos dispositivos anti-predação, para evitar perdas de animais domésticos que possam causar abate de onças por retaliação. Costumamos dizer que não queremos apenas cuidar das onças, mas das pessoas que dividem essa terra com elas.

     O contato contínuo com as comunidades ajuda a afastar o medo, criar e fortalecer vínculos, e ajuda que o projeto tenha uma relação de confiança com os moradores. A estratégia do projeto inclui atendimento imediato, sempre que possível, a predações, visualizações de grandes felinos ou mesmo de pegadas. E cada atendimento nunca é uma visita única, as propriedades passam a ser monitoradas constantemente.

                                                atendimento a comunidades lindeiras ao PNI - crédito Arquivo Projeto Onças do Iguaçu

Imagem 4: atendimento a comunidades lindeiras ao PNI. Acervo: Projeto Onças do Iguaçu (PNI/ICMBio).

     Em 2020 atendemos 4 casos de predação por onça-pintada e 5 casos de predação por onça-parda.

     Nesses casos, instalamos dispositivos anti-predação, monitoramos o local continuamente através de visitas e armadilhas fotográficas e auxiliamos a identificar e eventualmente implementar mudanças de manejo que aumentem a segurança.

                                                 instalação de dispositivos anti-predação - crédito arquivo Projeto Onças do Iguaçu

Imagem 5: instalação de dispositivos anti-predação. Acervo: Projeto Onças do Iguaçu (PNI/ICMBio).

     Criamos um programa de ciência cidadã, o Time Panthera, que busca o envolvimento direto das comunidades lindeiras ao Parque Nacional nas atividades do Projeto Onças do Iguaçu.

     Além do senso de pertencimento e envolvimento direto da comunidade na conservação da onça-pintada na região, essa ação possibilita multiplicar a presença do projeto, através de pontos focais nos Municípios lindeiros. Com isso, a meta é que as notícias sobre onças cheguem mais regularmente ao projeto, e que os membros do Time Panthera possam atuar junto a suas comunidades como parceiros em atividades de engajamento, coexistência, identificação de fragilidades ou oportunidades de intervenção. Em 2020, integrantes do Time Panthera fizeram a implementação e manutenção de uma trilha dentro do Parna Iguaçu, em Serranópolis, a Trilha da Onça.

       Trilha da Onça - credito Time PantheraTrilha da Onça 2 - crédito Time Panthera

Imagens 6 e 7: Trilha da Onça, Serranópolis do Iguaçu. Acervo: Time Panthera.

     Não fazemos o ressarcimento de animais predados por onças, mas criamos um sistema que chamamos de "Onça Compensa" no qual identificamos, em uma avaliação caso a caso, talentos locais que o projeto possa ajudar a desenvolver, visando a produção de produtos/serviços aos quais a onça agregue valor, gerando uma fonte alternativa de renda diretamente relacionada à conservação das onças. Usamos nossa rede de contatos para buscar capacitação, intercâmbio entre produtores, certificação e identificação de mercados para os produtos associados às onças. O resultado esperado é que a geração alternativa de renda agregue valor à manutenção das onças vivas. E já temos vários exemplos, como o queijo da onça, mel da onça, nozes & onças, palanques da parda....e estamos só começando! Tem muita ideia bacana em fase de implementação.

     Em 2020 fomos certificados pela Associação Latino-americana de Zoos e Aquários (ALPZA) como um dos esforços líderes em conservação na América Latina.

       onça-pintada em carcaça de boi predado - crédito arquivo Projeto Onças do IguaçuOnça India no PNI - crédito arquivo Projeto Onças do Iguaçu

Imagem 8: onça-pintada em carcaça de boi predado. Imagem 9: onça-pintada "India". Acervo: Projeto Onças do Iguaçu (PNI/ICMBio).

     Trabalhamos bastante com comunicação, e em ano de pandemia, onde o contato pessoal foi mais restrito, investimos bastante em outras formas de alcançar as pessoas: Foram quase 50 mil pessoas alcançadas em 17 lives e 28 palestras, 6 boletins A Voz da Onça, 6 matérias no site O Eco, com alcance de 7 mil pessoas. Também renovamos nosso site e criamos um canal no Youtube.

     Sim, a estada para a conservação da onça-pintada na região é longa, mas tem muita gente cheia de energia, paixão e comprometimento trabalhando junta para cuidar dessa espécie tão absolutamente magnífica. Não existem soluções simples, existe uma junção de estratégias e equipes (e orações, claro!)

     Vamos juntos?

                                                Atividade com escoteiros no JAM CAM - crédito arquivo Projeto Onças do Iguaçu

Imagem 10: Atividade com escoteiros no JAM CAM. Acervo: Projeto Onças do Iguaçu (PNI/ICMBio).

 

Fique por dentro:

Site do oficial do Projeto Onças do Iguaçu: https://www.oncasdoiguacu.org/

Boletins A Voz da Onça: https://www.oncasdoiguacu.org/fique-por-dentro/