Insetos e parasitoides e o gradiente de altitude

Projetos: Determinantes da riqueza de vespas parasitoides Ichneumonidae (Hymenoptera) em um hotspot de Biodiversidade Tropical (CNPq) e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Hymenoptera Parasitoides (CNPq, CAPES e FAPESP)

thumbnail Vespa Pelecinus com longo abdomen parasitoide de larvas de besouros

Pesquisadores do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estão realizando estudo sobre insetos, principalmente parasitoides, no Parque Nacional da serra dos Órgãos (PARNASO). O objetivo é identificar, classificar e compreender a distribuição e a ocorrência das espécies. Muitos insetos podem ser de extrema importância para o controle biológico de pragas. Algumas das espécies são endêmicas de nossa região e estão ameaçadas pelas mudanças climáticas.

thumbnail Armadilha Malaise

A pesquisa envolve também a História Natural no sentido de identificar as espécies hospedeiras de vespas e as plantas preferidas para reprodução de algumas espécies. A equipe é formada por coordenador geral, coordenadora, um doutorando, um mestre colaborador, um mestrando e dez alunos da graduação. "Uma das principais vertentes de nossa pesquisa é o levantamento das espécies em cada altitude. O acréscimo de temperatura poderá provocar a migração das espécies", destacou o coordenador geral da pesquisa e professor doutor da UFRJ, Ricardo Ferreira Monteiro. Um trabalho de campo foi realizado entre os dias 8 e 10 de janeiro com uma excursão científica até a Pedra do Sino. Antes da saída para campo a professora e coordenadora do projeto, Margarete Valverde Macedo, chamou a atenção da equipe sobre o que devem priorizar nas observações de fauna e flora. Os pesquisadores realizaram observações nas trilhas e no campo de altitude. O comportamento dos insetos e as características da vegetação foram destacados. Há muitos anos o laboratório vem estudando e triando material e já publicaram alguns resultados em revistas científicas como a Zookeys. O trabalho está devidamente registrado no Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO) do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio). O estudo é altamente complexo no sentido de envolver uma quantidade enorme de espécies e uma biodiversidade intensa. A identificação e a coleta de material envolvem muito tempo e dedicação. A pesquisa enfatiza o ciclo de vida, a ocorrência, o endemismo e a reprodução, principalmente de espécies raras, endêmicas e ameaçadas.

thumbnail Pupa de borboleta com buracos de saida de vespas parasitoides

Os pesquisadores estão interessados em saber as mudanças que ocorrem de acordo com a amplitude de altitude e estão realizando estudos e coletas desde a baixada (cerca de 100 m de altitude) até os campos de altitude (acima de 2000m). As pesquisas estão sendo realizadas principalmente no Parque Nacional do Itatiaia e no PARNASO, mas outras Unidades de Conservação também foram consideradas no Estado do Rio de Janeiro. Prioridade é o estudo de vespas, besouros, borboletas e mariposas. Muito do material coletado é passado para outros pesquisadores especialistas. Existe uma rede de cientistas da área que trocam amostras e informações. A equipe utiliza um tipo de armadilha conhecida como malaise onde o inseto é capturado para depois ser conservado para análises. Os pontos onde as malaises estão localizadas são georeferenciados e a preocupação principal é o fator altitude. As características microclimáticas do local também são consideradas como temperatura e umidade. A ideia é saber o limite da ocorrência das espécies de acordo com a altitude. "De acordo com a altitude muda muito a diversidade e a comunidade presente. O gradiente é um fator essencial e a temperatura influencia muito na espécie", explicou o colaborador e mestre em ciências biológicas Alexandre Pimenta Esperanço.

thumbnail Lagartas de Morpho

O estudo pretende identificar assim o limite de suporte das espécies de acordo com a altitude. As mudanças climáticas podem afetar. "A tendência com o aumento do calor é que as populações se desloquem para uma altitude maior", afirmou Alexandre. Cenários poderão ser construídos em função do aquecimento global. "Outra migração provável é o da latitude em direção às áreas mais frias do planeta em função também do aumento das temperaturas", enfatizou o professor. Ao longo das estações do ano acontece também uma movimentação da distribuição das espécies. "Um problema grave vão ter as espécies que estão nas áreas mais altas, muitas endêmicas, que poderão, por estarem no limite e não terem mais para onde migrarem, serem as primeiras a serem consideradas em extinção. Temos que investigar isso", alertou Ricardo. Ele informou que o trabalho é o maior já realizado no Brasil com uma amplitude de altitude tão extensa. Várias espécies novas foram recentemente identificadas por pesquisadores. Ricardo ressaltou alguns problemas que ameaçam espécies endêmicas, além das mudanças climáticas que é um fator de médio e longo prazos. Citou alguns impactos antrópicos diretos como queimadas, espécies invasoras, urbanização, fragmentação das florestas e o uso de agrotóxicos no entorno. Estes últimos representam uma ameaça muito importante, principalmente para a polinização provocando perturbações no sincronismo. A invasão de espécies exóticas e os venenos agrícolas podem fortalecer as pragas e aumentar muito a vulnerabilidade de várias espécies. Os pesquisadores pretendem apresentar os resultados em Encontros científicos do Parque e para o conselho.

thumbnail Borboleta Morpho

Reportagem de Francisco Pontes de Miranda Ferreira – Apoio à Coordenação de Pesquisa e Monitoramento da Biodiversidade

Fotos de autoria e cedidas pela equipe de pesquisa