Mamíferos - Chiropotes utahickae - Cuxiú
Avaliação do Risco de Extinção de Chiropotes utahickae Hershkovitz, 1985 no Brasil
André Chein Alonso1, Andréa Siqueira Carvalho2
1Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros – CPB/ ICMBio. <guaribapoa@yahoo.com.br>
2Universidade Federal Rural da Amazônia/Campus Parauapebas/PA. <andrea.siqueira@ufra.edu.br>
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Ordem: Primates
Família: Pitheciidae
Nomes comuns por região/língua:
Português – Cuxiú
Inglês – Uta Hick’s Bearded Saki, Uta Hick’s Bearded Saki, Cuxiú (Barnett et al. 2012)
Sinonímia/s: Chiropotes satanas ssp. utahicki (Hershkovitz 1985), Chiropotes satanus (Hershkovitz 1985) ssp. utahicki
Notas taxonômicas:
De acordo com Veiga et al. (2008, tradução nossa), Hershkovitz (1985) revisou o gênero Chiropotes e reconheceu duas espécies, Chiropotes albinasus e Chiropotes satanas, a segunda contendo três subespécies (Chiropotes s. satanas, Chiropotes s. chiropotes e Chiropotes s. utahicki). Com base em análises integrativas de dados morfológicos, morfométricos e moleculares, Silva Jr. & Figueiredo (2002) propuseram a elevação dessas três subespécies de Chiropotes satanas ao nível de espécie, e a divisão das populações que ocorrem em cada lado do rio Branco em dois taxa distintos. Assim, um arranjo taxonômico proposto por esses autores teria cinco espécies: Chiropotes albinasus, Chiropotes satanas, Chiropotes utahickae, Chiropotes chiropotes e Chiropotes sagulatus (Traill, 1821). Este último táxon representa a forma oriental de C. chiropotes, que ocorre a leste do rio Branco, no Brasil, Suriname e as Guianas (Veiga et al. 2008). No presente estudo está sendo seguida a taxonomia proposta por Rylands (2012).
Categoria e critério para a avaliação da espécie no Brasil: Vulnerável (VU) - A4cd.
Justificativa:
Chiropotes utahickae habita a floresta amazônica no interflúvio Xingu-Tocantins, sendo seu limite sul desconhecido. A espécie ocorre em somente duas Unidades de Conservação de Proteção Integral. O desmatamento e a fragmentação do hábitat em boa parte de sua extensão de ocorrência, aliados à pressão de caça, vêm se constituindo como as principais ameaças à espécie, ainda sem previsão de redução. A instalação de hidrelétricas e o asfaltamento da BR-230 devem intensificar os impactos. Suspeita-se, portanto, de um declínio populacional em curso de pelo menos 30% ao longo de três gerações, sendo a espécie categorizada como Vulnerável (VU) sob os critérios A4cd.
Avaliação nacional anterior: Vulnerável (VU) - A3cd
Avaliações em outras escalas:
Avaliação Global (IUCN): Em Perigo (EN) - A3cd (Veiga et al. 2008).
Avaliação estadual: Vulnerável (VU), pelos critérios A4c, B2abiii, para o Pará (SEMA 2006).
História de vida
Maturidade sexual (anos) |
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Fêmea | 4 anos (para o gênero – Nowak 1999, Peetz 2001). |
Macho | 4 anos (para o gênero – Nowak 1999, Peetz 2001). |
Peso Adulto (g) | |
Fêmea | 1900-3300 (para C. satanas) (Ford & Davis 1992). |
Macho | 2200-4000 (para C. satanas) (Ford & Davis 1992). |
Comprimento Adulto (mm) | |
Fêmea | Cabeça-corpo: 397 (380-410), cauda: 389 (370-420) (para C. satanas) (Napier 1976). |
Macho | Cabeça-corpo: 422 (400-480). cauda: 393 (395-420) (para C. satanas) (Napier 1976). |
Tempo geracional (anos) |
10 (IUCN/SSC 2007) |
Sistema de acasalamento | Poligâmico (Peetz 2001). |
Intervalo entre nascimentos | 2 anos (para o gênero – Peetz 2001). |
Tempo de gestação (meses) |
5 - 5,6 (para C. satanas) (Robinson et al. 1987). |
Tamanho da prole | 1 (para Chiropotes sp.) (Van Roosmalen et al. 1981). |
Longevidade | 18 anos para o gênero (Nowak 1999). |
Características genéticas | |
Cariótipo: A análise cariotípica de Chiropotes sp. do Rio Negro mostrou 2n=54, FN=74. O complemento autossômico inclui 11 pares de cromossomos metacêntricos ou submetacêntricos e 15 pares acrocêntricos variando em tamanho desde pequenas a grandes. O cromossomo X é um submetacêntrico de médio porte. Comparações mostraram que o cariótipo de Chiropotes chiropotes (CC) é diferente de C. sagulata (CS) e C. utahickae (CU). CC difere de CS por duas inversões pericêntricas, representando diferenças entre CC 12 (acrocêntrico) e CS 5 (submetacêntrico), e entre CC 11 (submetacêntrico) e CS 21 (acrocêntrico). Chiropotes sp. também difere da C. utahickae em NF e por três inversões pericêntricas, entre CC 12 (acrocêntrico) e CS 5 (submetacêntrico), CC 11 (submetacêntrico) e CS 21 (acrocêntrico), e CC 9 (submetacêntrico), CSU e 14 (acrocêntrico) (Bonvicino et al. 2003). Informações sobre variabilidade genética do táxon (padrões filogeográficos e relações filogenéticas): desconhecido |
Há indicações (inferências, suspeitas) de que a distribuição atual do táxon está reduzida em relação a sua área de ocupação. Assim, os limites extremos da distribuição parecem estar inalterados, embora o desmatamento ocorrido dentro da área, ao longo das últimas três décadas, implique a perda de pelo menos 20% da floresta ocupada originalmente pela espécie (Lopes et al. 2008).
Informações sobre densidade populacional: 0,22 ind./km2 em Caxinauã, PA (Vilinec et al. 2006); 2,88 ind/km² na Estação Científica Ferreira Penna (FLONA de Caxiuana), 5,81 ind/km² no Território Paracanã e 23,78 ind/km² na Fazenda Aratau (Ferrari et al. 1999).
Tendência populacional: Em declínio.
Chiropotes utahickae foi uma das 11 espécies de mamíferos incluídas no Plano de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Endêmicas e Ameaçadas de Extinção da Fauna da Região do Baixo e Médio Xingu (Brasil/ ICMBio 2012a). Esse Pan conta com um Grupo de Assessoramento Técnico, composto por 18 profissionais de diversas instituições, inclusive especialistas no táxon, que acompanham sua implementação (Brasil/ ICMBio 2012b).
São necessárias ações de fiscalização nas unidades de conservação onde a espécie é encontrada para garantir um menor impacto pela caça à espécie, bem como a consolidação de novas áreas de proteção.
A ecologia da espécie ainda é pouco conhecida. Neste sentido, são necessárias pesquisas científicas visando a formulação de uma base de dados sólida para subsidiar a formulação de diretrizes de manejo. Além disto, a identificação dos fatores determinantes da tolerância da espécie à fragmentação de hábitat e dos fatores limitantes de seu potencial de sobrevivência será essencial para o planejamento de estratégias efetivas de manejo, considerando o avanço da ocupação humana e diversos empreendimentos na região de ocorrência da espécie (Lopes et al. 2008).
Lopes et al. (2008, p.779) citam no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, os seguintes Especialistas/Núcleos de Pesquisa e Conservação: José de Sousa e Silva Júnior, Ricardo Rodrigues dos Santos e Tatiana Martins Vieira (MPEG); Marcus Emanuel Barroncas Fernandes, Urbano Lopes Bobadilla e Wilsea Maria Batista de Figueiredo (UFPA); Stephen Francis Ferrari (UFS); Centro Nacional de Primatas (PA); MPEG (PA); UFPA.
Barnett, A.A.; Pinto, L.P; Bicca-Marques, J.C.; Ferrari, S.F.; Gordo, M.; Guedes, P.T.; Lopes, M.A.; Opazo, J.C.; Port-Carvalho, M.; dos Santos, R.R.; Soares, R.F.; Spironello, W.; Veiga, L.; Vieira, T.M. & Boyle, S.R. 2012. A proposal for the common names for species of Chiropotes (Pitheciinae: Primates). Zootaxa, 3507: 79-83.
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Bonvicino, C.R.; Boubli, J.P.; Otazu, I.B.; Almeida, F.C.; Nascimento, F.F. & Coura, J.R. 2003. Morphologic, karyotypic, and molecular evidence of a new form of Chiropotes (Primates, Pitheciinae). American Journal of Primatology, 61(3): 123-133.
Brasil/ ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). 2012a. Portaria nº 16, de 17 de fevereiro de 2012 - Aprova o Plano de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Endêmicas e Ameaçadas de Extinção da Fauna da Região do Baixo e Médio Xingu. Diário Oficial da União – Seção 1, 22/02/2012: 64-65.
Brasil/ ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). 2012b. Portaria nº 75, de 2 de março de 2012 – Institui o Grupo de Assessoramento Técnico para acompanhar a implementação do Plano de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Endêmicas e Ameaçadas de Extinção da Fauna da Região do Baixo e Médio Xingu. Diário Oficial da União – Seção 2, 05/03/2012: 54.
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Oficina de Avaliação do Estado de Conservação de Primatas Brasileiros.
Data de realização: 30 de julho a 03 de agosto de 2012.
Local: Iperó, SP.
Avaliadores:
Alcides Pissinatti, Amely B. Martins, André C. Alonso, André de A. Cunha, André Hirsch, André L. Ravetta, Anthony B. Rylands, Armando M. Calouro, Carlos E. Guidorizzi, Christoph Knogge, Fabiano R. de Melo, Fábio Röhe, Fernanda P. Paim, Fernando de C. Passos, Gabriela Ludwig, Gustavo R. Canale, Ítalo Mourthé, Jean P. Boubli, Jessica W. Lynch Alfaro, João M. D. Miranda, José Rímoli, Júlio C. Bicca-Marques, Leandro Jerusalinsky, Leandro S. Moreira, Leonardo G. Neves, Leonardo de C. Oliveira, Líliam P. Pinto, Liza M. Veiga, Maria Adélia B. de Oliveira, Marcos de S. Fialho, Mariluce R. Messias, Mônica M. Valença-Montenegro, Rosana J. Subirá, Renata B. Azevedo, Rodrigo C. Printes, Waldney P. Martins e Wilson R. Spironello.
Colaboradores:
Amely B. Martins (Ponto Focal), André C. Alonso (Apoio), Bruna M. Bezerra, Camila C. Muniz (Apoio), Carlos E. Guidorizzi (Facilitador), Emanuella F. Moura (Apoio), Fabiano R. de Melo (Coordenador de táxon), Gerson Buss (Apoio), Jean P. Boubli, Liza M. Veiga (Coordenador de táxon), Marcos de S. Fialho (Coordenador de táxon), Rosana J. Subirá (Facilitadora), Taissa Régis (Apoio) e Werner L. F. Gonçalves (Apoio).
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