Invasores

A “bioinvasão” somada à degradação de ambientes naturais por outros fatores potencializa declínios populacionais de espécies nativas que podem ser extintas.

Integrar a pesquisa aplicada à conservação da biodiversidade é um objetivo que o RAN sempre buscou. Dentre os problemas que encontramos na conservação, as espécies exóticas invasoras são consideradas como uma das maiores ameaças para a biodiversidade em todo o mundo. Este problema é de grande importância nas Unidades de Conservação (UC), cujo objetivo principal geralmente é o de proteger a natureza.

Répteis invasores

Avaliação do impacto do teiú (Salvator merianae) na saúde ambiental e conservação da biodiversidade no Arquipélago de Fernando de Noronha:

pesagemTEIU VivianUhligtrabalho campo 7 VivianUhlig teiu

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Imagens: Coleta de dados e material para estudo sobre patógenos pelo analista ambiental responsável pelo projeto, Carlos Abrahão (a esquerda) e Prof. Dr. do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal orientador do projeto de pesquisa na USP, Ricardo Dias (a direita). (Foto: Vívian Uhlig)

 

Em ilhas, os ambientes são ainda mais frágeis uma vez que as espécies que só existem nestes lugares são muito vulneráveis à predação, competição por recursos e geralmente suscetíveis às doenças trazidas pelas espécies introduzidas. Estes processos podem causar a extinção das espécies insulares endêmicas como já ocorreu com o rato de Noronha, Noronhomys vespuccii, extinto recentemente no século XVII.

Apesar do status de patrimônio mundial da UNESCO, o arquipélago de Fernando de Noronha sofre desde a sua colonização com a introdução de espécies continentais, entre elas o teiú, teju ou tejú (Salvator merianae) que foi introduzido propositalmente na ilha no fim da década de 1950 para controle dos roedores trazidos pelos europeus, que chegaram muito antes. Este grande lagarto onívoro e de hábitos generalistas se adaptou muito bem às principais ilhas do arquipélago e hoje estima-se que sua população esteja ao redor de 8000 indivíduos apenas na ilha principal. Sabe-se que também habita a ilha da Rata e é provável que sejam encontrados em outras ilhas menores, ainda que temporariamente, uma vez que são bons nadadores em curtas distâncias. Existem muitos relatos de predação de ovos e filhotes de aves nativas ou migratórias, além de recentemente terem observado mais ataques aos ninhos de tartarugas, uma possível mudança no seu comportamento predador. Existe também um risco potencial para a saúde humana, por serem sabidamente transmissores de alguns patógenos zoonóticos, além de poderem transmitir doenças importantes para outros répteis endêmicos da ilha, o caso da mabuia-de-noronha (Trachylepis atlantica) e da amphisbaena-de-noronha (Amphisbaena ridleyi). Trabalhos que envolvem a transmissão de doenças são raros na maioria dos estudos com espécies invasoras, apesar da grande importância deste aspecto e seu papel na extinção de espécies.

O Plano de manejo do Parque Nacional Marinho e da Área de Proteção Ambiental de Fernando de Noronha apontam o teiú como espécie que necessita ser manejada para assegurar a conservação da biodiversidade da ilha. Neste sentido o RAN vem realizando esta pesquisa em Fernando de Noronha tanto para auxiliar os gestores com informações científicas confiáveis sobre os hábitos e problemas que o teiú pode representar, bem como para monitorar as ações de manejo que poderão ser necessárias no futuro. Desta forma o RAN busca auxiliar as UCs e o ICMBio para enfrentar um problema grave que ocorre em todo o país e que quase nunca é lembrado.

Anfíbios Invasores

Um exemplo de anfíbios invasor é a rã-touro-gigante (Lithobates catesbeianus), originária da América do Norte e introduzida no Brasil em 1935, a qual tem-se proliferado principalmente nas regiões Sul e Sudeste, que constituem ambientes favoráveis ao seu estabelecimento.

Lithobates catesbeianus

Devido à carência de conhecimento e pouca abrangência de pesquisas e monitoramentos populacionais pertinentes pouco se sabe sobre os efeitos da bioinvasão destes animais no Brasil.

Com essa preocupação, o RAN vem realizando fóruns de discussão com a comunidade científica, órgãos ambientais e sociedade interessada, no intuito de implementar um programa de pesquisa para o diagnóstico dos potenciais impactos de espécies exóticas invasoras e suas conseqüências sobre répteis e anfíbios nativos, com a perspectiva de promover a prevenção, monitoramento, controle e erradicação das espécies bioinvasoras.