SECA E INCÊNDIO FLORESTAL CASTIGAM AS RESERVAS NO ESPIRITO SANTO

RESERVA BIOLÓGICA DE SOORETAMA E RESERVA NATURAL VALE SEVERAMENTE ATINGIDAS PELO FOGO

O estado do Espirito Santo enfrenta uma das maiores crises hídricas dos últimos 70 anos, com graves reflexos sobre os setores que dependem da estabilidade dos recursos hídricos, como o abastecimento público, agropecuária e conservação da biodiversidade.

O abastecimento público em vários municípios da região centro leste e norte do estado, vêm adotando algum tipo de racionamento e distribuição parcial de água através do uso de carros pipas para evitar o colapso no atendimento aos usuários.

A agricultura da região baseada na produção de café conilon irrigado, já prevê uma queda variável entre 30 a 50 % da colheita na safra de 2016, pois os estoques de água nos corpos hídricos naturais e represas, já atingiram seu ponto máximo de exaustão e os seus leitos expõe uma camada de lama ressecada e com rachaduras provocadas pela incidência direta dos raios solares.

SITUAÇÃO DAS LAGOAS NO INTERIOR DA REBIO SOORETAMA

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Foto: Antonio de Padua Almeida

Do ponto de vista ambiental, a conservação da biodiversidade certamente é uma das áreas mais afetadas, pois a natureza dos elementos da flora e da fauna não dispõe dos mesmos instrumentos mitigadores utilizados pelo ser humano para o enfrentamento de eventos críticos como este que esta ocorrendo na região, tornando-se muitas vezes vítimas das mazelas humanas no trato com o meio ambiente.

SITUAÇÃO DOS CÓRREGOS NO INTERIOR DA RESERVA BIOLÓGICA DE SOORETAMA

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Foto: Valdir M Santos

Neste aspecto o grupo mais afetado são os organismos aquáticos fluviais, que dependem dos corpos hídricos para sua sobrevivência e quando estes secam, toda a vida que depende desses habitats se extingue.

 

A Reserva Biológica de Sooretama/ICMBio no centro-leste do ES enfrenta o maior incêndio florestal da sua história, desde o dia 29-02-2016, onde já foram consumidos em torno de 2000 hectares de vegetação nativa da Mata Atlântica, além de uma grande área da Reserva Natural VALE constituídas em boa parte por vegetação predominante em solos turfosos de áreas úmidas e alagadas (ciperácea, poácea e arácea), vegetação arbustiva de ilhas flutuantes, além da floresta ombrófila densa, distribuída em mais de 50 quilômetros de perímetro de área queimada ao longo das calhas dos rios Barra Seca, Cupido e seus tributários.

PERIMETRO PARCIAL DA ÁREA ATINGIDA PELO INCÊNDIO EM VERMELHO

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CALHA DO RIO BARRA SECA ATINGIDA PELO INCÊNDIO

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Foto: Valdir M Santos

                              INCÊNDIO NA FLORESTA DENSA

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                               Foto: Arquivo ISAS

As condições atmosféricas representadas pela longa estiagem, altas temperaturas, baixa umidade relativa do ar, predominância de ventos fortes, a falta de água nos córregos e rios que banham a Unidade de Conservação, grandes distâncias inacessibilidade às áreas, dificultam a extinção do incêndio que avança sobre a floresta ombrófila densa.

Outros fatores como o hábito da população em utilizar o fogo como recurso para manejo de áreas para cultivo nas propriedades rurais ou mesmo para verem-se livres de algum tipo de lixo e a presença de caçadores no interior da reserva, tem se mostrado como os principais elementos que colocam em risco a conservação da biodiversidade no maior fragmento de Mata Atlântica do ES constituído pela Reserva Biológica de Sooretama, Reserva Natural VALE, RPPNs Mutum Preto, Recanto das Antas e área particulares adjacentes, pois em dezembro de 2015 foram consumidos 160 hectares de floresta por um incêndio criminoso.

Desde os primeiros momentos do incêndio as equipes do ICMBio (Rebios de Comboios, Córrego Grande, Córrego do Veado, Flona de Rio Preto, Brigadistas da Serra dos Órgãos-ICMBio e IBAMA), Reserva Natural VALE e PROSSEGUR atuam intensamente no controle do fogo, mas devido as dimensões que o incêndio poderia alcançar se a chuva não chegasse a Reserva Biológica de Sooretama buscou o apoio do Corpo de Bombeiros de Linhares que intermediou junto ao Governo do Estado, a mobilização das unidades de Linhares, São Mateus, Nova Venécia, Marechal Floriano e equipe do NOTAER da Policia Militar, para atuarem efetivamente com toda sua estrutura na coordenação e combate ao incêndio.

 BRIEFING MATINAL COM AS EQUIPES DE COMBATE AO INCÊNDIO6 GEDC0649 - Cópia

Foto: Valdir M Santos

EQUIPES EM TRABALHO DE COMBATE AO INCÊNDIO NO CÓRREGO CUPIDO

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Foto: Valdir M Santos

Desde o dia 12-03-2016 uma equipe de 100 militares do 38º Batalhão de Infantaria de Vila Velha no ES, vieram contribuir no combate ao incêndio na Reserva Biológica de Sooretama. Diversas outras entidades estão apoiando diretamente as atividades de combate desde o fornecimento de carros pipas, maquinas, moto bombas, força de trabalho, ferramentas e alimentação para um grupo aproximado de 200 homens envolvido na operação, dentre eles as Prefeituras de Jaguaré, Sooretama e Linhares, LASA Destilaria, ECO 101, EMFLORA, Caliman Agrícola, o Instituto Socioambiental Sooretama-ISAS, voluntários vizinhos da UC e diversas entidades e pessoas que tem contribuído com fornecimento de lanches para os combatentes.

BRIEFING CORPO DE BOMBEIROS, 38º BATALHÃO INFANTARIA DE VILA VELHA E ICMBio8 GEDC0784 - Cópia

Foto: Valdir M Santos

  PARADA PARA ALMOÇO - BOMBEIROS, EXÉRCITO E BRIGADISTAS ICMBio

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Foto: Valdir M Santos

Devido as condições adversas o avanço da linha de fogo poderia ter assumido proporções gigantescas na Unidade de Conservação e a solução definitiva para o problema depende de uma boa chuva para eliminar todos os focos que tendem a se expandir nas horas mais quentes do dia. Embora contido o avanço sobre uma área maior do bloco florestal de aproximadamente 50.000 hectares de Mata Atlântica, os prejuízos sobre a biodiversidade são incalculáveis, pois certamente milhões de seres vivos de menor porte que habitavam os ambientes atingidos sucumbiram com o fogo, sendo muito comum o registro de imagens de animais de maior porte destruídos pelo fogo.

                   AA MURILO DA FLONA DO RIO PRETO EXPONDO UMA VITIMA DO INCÊNDIO

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                    Foto: Arquivo ISAS

Em plena época de aquecimento global as pessoas ainda insistem em utilizar o fogo de forma irresponsável e quase sempre os resultados são catastróficos. Seus efeitos muitas vezes passam despercebidos sob o ponto de vista humano, que esta acostumado a perceber somente aquilo que lhes atinge individualmente. Poucos se importam com o universo ao seu redor, onde os rios são apenas espaços sem vida de onde se extrai a água para atender as necessidades humanas e para onde são direcionados os esgotos. Onde as florestas são apenas espaços que atrapalham o desenvolvimento do meio rural e que aos poucos vão sendo suprimidas para aumentar as áreas de plantio, pouco se importando com a vida animal que delas dependem. E assim o desequilíbrio ambiental vai se acentuando e poucos são chamados a pagar pelos prejuízos causados aos ambientes naturais destinados a conservar amostras da biodiversidade regional.

Texto:

VALDIR MARTINS DOS SANTOS

ANALISTA AMBIENTAL

RESERVA BIOLÓGICA SOORETAMA/ICMBio