Espeleologia, Paleontologia e Arqueologia

O Parque Nacional de Ubajara é responsável pela preservação e conservação de 11 (onze) Cavernas, onde se desta a Gruta de Ubajara, por ser aberta a visitação. É responsável, também, pela Gruta do Urso Fóssil, a qual conserva o Fóssil de Um Urso.

 Antes do atual levantamento, haviam sido registradas na sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), por ocasião dos levantamentos do primeiro Plano de Manejo, cinco cavernas, sendo a principal, com maior desenvolvimento e única até o momento aberta à visitação, a famosa Gruta de Ubajara, principal atrativo do Parque. As demais foram denominadas de Gruta de Cima, Gruta do Morcego Branco, Gruta do Pendurado e Gruta do Urso Fóssil. Esta última recebeu esta denominação devido à descoberta, também por ocasião dos levantamentos do primeiro Plano de Manejo, de um crânio fossilizado de um urso da espécie Arctotherium brasiliense, com datação de aproximadamente 10.000 anos, e que encontra-se depositado no museu da Universidade de São Paulo. Antes do atual levantamento, este era o único registro paleontológico do PNU. No Anexo 5.2-1 podem ser verificadas as descrições das cinco grutas acima mencionadas.

No presente levantamento foram acrescidas seis novas cavernas, totalizando agora onze cavernas, confirmando o grande potencial espeleológico do Parque (Figura 5.1). Na verdade, este número provavelmente ainda deverá ser aumentado, visto que foram prospectados somente os morros calcários de acesso menos complicado, faltando ainda a prospecção dos morros das Figuras e do Teixeira.

Relação das cavernas do Parque Nacional de Ubajara

NomeDesenvolvimento (m)Registro na SBEObservações
Gruta de Ubajara 1.120 CE-01 Localizada no Morro de mesmo nome. Possui rio subterrâneo. Possui restos fossilizados de animais, de espécies ainda viventes. Foram descobertas durante o projeto galerias desconhecidas, ainda não exploradas, ou por dificuldade de acesso (altura) ou por bloqueio de capas estalagmíticas. Há possibilidade de conexão com a Gruta de Cima. Pelo direcionamento regional do pacote calcário não se descarta a possibilidade da gruta aumentar muito seu desenvolvimento, o que ocorreria em direção à zona urbana de Ubajara. Não foi retopografada
Gruta de Cima 108 CE-02 Localizada no Morro de Ubajara, é conhecida desde o primeiro Plano de Manejo. Possui abismo, pelo qual há possibilidade de conexão com a gruta de Ubajara. Retopografada em, levantamemto expedito, grau BCRA 4D.
Gruta do Morcego Branco 274 CE-03 Localizada no Morro do Índio, é conhecida desde o primeiro Plano de Manejo. Possui curso d’água subterrâneo na estação chuvosa.Retopografada em levantamento expedito, grau BCRA 4D
Gruta do Pendurado 154 CE-04 Localizada no Morro do Pendurado, é conhecida desde o primeiro Plano de Manejo. Possui abismo. Retopografada em levantamento expedito, grau BCRA 4D.
Gruta do Urso Fóssil 195 CE-05 Localizada no Morro do Pendurado, é conhecida desde o primeiro Plano de Manejo. Possui curso d’água subterrâneo na estação chuvosa. Possui abismo. Retopografada em levantamento expedito, grau BCRA 4D
Gruta dos Mocós 116 Localizada no Morro do Índio. Sua entrada está voltada para a Gruta de Ubajara, num nível mais elevado. Topografada em levantamento expedito, grau BCRA 4D. Era desconhecida cientificamente antes do projeto.
Gruta das Aranhas 182 Localizada no Morro do Índio, a poucos metros da Gruta do Morcego Branco. Possui pequenas acumulações de água no final. Topografada em levantamento expedito, grau BCRA 4D. Era desconhecida cientificamente antes do projeto.
Gruta do Macaco Fóssil Desconhecido (acima de 50) Localizada no Morro da Bandeira. Possui abismo Não topografada. Era desconhecida cientificamente antes do projeto
Furna das Pipocas 30 (estimado) Localizada no Morro do Índio, próximo à estação inferior do teleférico. Não topografada. A entrada forma um grande pórtico. Era desconhecida cientificamente antes do projeto.
Furna do Acaso 30 (estimado) Localizada na extremidade norte do Morro do Pendurado. Não topografada. A entrada é bem pequena. Era desconhecida cientificamente antes do projeto.
Furna da Múmia 20 (estimado) Localizada no Morro de Ubajara, a poucos metros da Gruta de Cima. Não topografada. O acesso se dá por uma pequena abertura próximo ao solo. Era desconhecida cientificamente antes do projeto

Cavernas localizadas na zona de amortecimento do Parque Nacional de Ubajara

NomeDesenvolvimento (m)Registro na SBEObservações
Furna do Araticum 272 CE-07 Localizada no Morro do Araticum, no Distrito de mesmo nome, Ubajara. Possui curso d’água na estação chuvosa. Possui abismo.
Furna de Santa Bárbara 62 Localizada no Morro de Santa Bárbara, no Distrito de Araticum, Ubajara
Furna do Abismo Desconhecido Localizada no Morro Redondo. Foi explorada parcialmente, devido a grande quantidade de abismos em seu interior.
Furna dos Cabritos 30 (estimado) Localizada no Morro Redondo.

Comparação dos desenvolvimentos das cavernas de Cima, do Morcego Branco, do Pendurado e do Urso Fóssil, após retopografia.

 NomeDesenvolvimento (m) Topografia anteriorDesenvolvimento (m) Topografia atualDiferença (m)
Gruta de cima  82 108  + 26 
Gruta do Morcego Branco 207 274 + 67
Gruta do Pendurado 110 154 + 44
Gruta do Urso Fóssiel 130 195 + 65

No que diz respeito à paleontologia, dez novos registros foram acrescentados, totalizando agora onze registros, que se encontram discriminados na Figura 5.4. Estes dado confirma o grande potencial paleontológico do Parque, com destaque para as grutas do urso Fóssil, dos Mocós, do Macaco Fóssil e de Ubajara. Na verdade, isto já era esperado, uma vez que as cavernas constituem jazigos paleontológicos por excelência. Destaca-se no conjunto das novas descobertas paleontológicas, o crânio fossilizado de um macaco-prego (Cebus apella), com incrustação carbonática avançada, comprovando que a ocorrência desta espécie na região é muita antiga. Além de material esqueletal, foram encontradas também conchas de gastrópodes em estágios avançados de incrustação carbonática.

 Mamíferos com registro de material esqueletal fossilizado, encontrados em cavernas do Parque Nacional de Ubajara

 Ordem/ Subordem Família Espécie Nome comumCaracterística do MaterialLocal onde foiencontrado
 Carnivora* Ursidae Arctotherium brasiliense Urso Crânio completo. Incrustação carbonática avançada Gruta do Urso Fóssil
Primates Cebidae Cebus apella Macaco prego Crânio sem mandíbula. Incrustação carbonática de alto grau em 90% do material, inclusive com preenchimento de uma das órbitas.

Gruta do Macaco
Fóssil

Rodentia Caviidae

Kerodon
rupestris

Mocó Crânios completos e fragmentos de mandíbulas. Incrustação carbonática insipiente a médio grau. Gruta do Urso Fóssil; Gruta dos Mocós; Gruta do Macaco Fóssil; Gruta de Cima
Artiodactyla Tayassuidae Tayassu sp “Porco do mato” Mandíbula quase completa. Incrustação carbonática de alto grau em 90% do material, inclusive com formação de “pipocas”. Gruta do Urso Fóssil
Marsupialia Didelphidae Didelphis sp.

Cassaco,
Gambá.

Fragmento de mandíbula. Incrustação carbonática insipiente. Gruta de Cima
Carnívora Felidae Felino ainda não identificado. Dentes. Incrustação carbonática insipiente.

Gruta do Urso
Fóssil

Chiroptera Emballonuridae Morcego ainda não identificado. Mandíbula. Incrustação carbonática insipiente.

Gruta do Urso
Fóssil

Rodentia Muridae Roedor ainda não identificado. Fragmentos de mandíbula. Incrustação carbonática avançada.

Gruta de Cima;
Gruta dos Mocós.

Rodentia/
Caviomorpha

Roedor ainda não identificado. Fragmento de mandíbula. Incrustação carbonática em 100% do material, formando uma capa espessa.

Gruta do Urso
Fóssil

Rodentia Roedor ainda não identificado. Seis dentes de grande tamanho, típicos de um grande roedor. Encontrados em sondagem, possuem incrustação carbonática insipiente. Gruta do Pendurado
Rodentia  Roedor ainda não identificado.  Seis dentes de grande tamanho, típicos de um grande roedor. Encontrados em sondagem, possuem incrustação carbonática insipiente.  Gruta dos Mocós
* Encontrado durante os levantamentos do primeiro Plano de manejo e depositado no Museu da USP.

A grande surpresa do atual estudo foi a inexistência, até o momento, de registros arqueológicos na área do PNU. Considerando que as cavernas constituem também sítios arqueológicos por excelência, não foi encontrada, apesar disto, nenhuma evidência de atividades humanas pré-históricas nas mesmas. Nada de arte rupestre, cerâmicas, ferramentas líticas ou marcas de ocupação ou acampamentos. Apenas registros de ocupações recentes (dos antigos moradores da área do Parque) foram encontrados, ou seja, referentes à primeira metade do século passado.