Animal raro é atropelado na BR 101.

No mês em que a Reserva Biológica de Sooretama – ICMBio realizou a última Campanha de Sensibilização Ambiental para chamar a atenção dos usuários da BR-101 sobre as frequentes mortes de animais silvestres por atropelamentos, foram registrados 18 atropelamentos que resultaram na morte dos animais apenas no trecho de cinco quilômetros da rodovia que corta a reserva.

Apesar do reduzido número de mortes registradas em comparação aos cinco primeiros meses de 2014, que correspondem a 77 mortes em janeiro, 56 em fevereiro, 67 em março, 25 em abril e 31 em maio, a morte de animais silvestres por atropelamentos representa um dos maiores entraves para a conservação das espécies silvestres no estado do Espírito Santo, tendo em vista a intensa circulação de veículos nas proximidades das áreas naturais preservadas, que servem de refúgio e manutenção da cadeia alimentar.

A Reserva Biológica de Sooretama foi criada com o objetivo de proteger a biodiversidade da Mata Atlântica da região centro leste do Espírito Santo e posteriormente outras áreas naturais foram mantidas no seu entorno como a Reserva Natural VALE, RPPN Mutum Preto e Recanto das Antas da FIBRIA Papel e Celulose, além de outras áreas particulares florestadas de propriedade da família Marianeli e Caliman, que somam juntas aproximadamente 50.000 hectares de floresta nativa e ainda oferecem condições para a sobrevivência de animais silvestres de grande porte como onças, antas, tatu-canastra e da ave gavião real.

Os esforços para a conservação da vida nesses ambientes é uma tarefa permanente das entidades responsáveis pela gestão dessas áreas, entretanto a vida silvestre desconhece os limites geográficos estabelecidos pelo homem e, movidos pelo instinto da sobrevivência, se deslocam por áreas de ocupação humana onde frequentemente ocorrem mortes por atropelamentos.

Além das mortes de animais silvestres registrados mensalmente no trecho da rodovia BR-101 norte que passa pelo interior da Reserva Biológica de Sooretama, é muito comum o atropelamento de animais nas estradas adjacentes à Unidade de Conservação, pois a rodovia tangencia o fragmento de Mata Atlântica num trecho aproximado de 20 quilômetros, onde deveriam ser instalados diferentes recursos para proteção da fauna como passagens e placas de sinalização, para alertar os usuários sobre a iminência da travessia de animais silvestres sobre a pista de rolamento.

Nas proximidades da Reserva, somente em junho foi registrada a morte de um felino popularmente conhecido como jaguatirica (Leopardus sp,) no km 93 e no dia 30 do mesmo mês foi registrada a morte de uma anta macho adulto com mais de 200 kg (Tapirus terrestris) no km 119, ambas espécies ameaçadas de extinção.

Anta

Considerando que restam apenas 8 a 9% da Mata Atlântica preservada no estado do Espírito Santo, sendo a maior parte representada por áreas que compõe as Unidades de Conservação, é inadmissível que a sociedade continue exterminando sua fauna pelo excesso de velocidade nas estradas que cortam as áreas naturais protegidas e que servem como habitat dos animais silvestres.

É tempo de copa do mundo e criancinhas manifestam na TV que nunca viram o Brasil ser campeão. Não seria o momento das pessoas adultas se perguntarem a quanto tempo não veem um mutum-do-sudeste, tatu-canastra, arara, jacutinga, irara, bugio, gavião-real, onça pintada, jaguatirica, anta, macuco e muitos outros circulando livremente na natureza?

Valdir Martins dos Santos

Analista Ambiental

Reserva Biológica de Sooretama - ICMBio