FIOCRUZ apresenta resultados de pesquisa sobre contaminação das comunidades pesqueiras por agrotóxicos

FIOCRUZ

A APA Cairuçu recebeu, no evento “Sexta Ambiental” do dia 14/10/2011, a professora Dra. Paula Sarcinelli, da FIOCRUZ, que apresentou os resultados da pesquisa sobre a contaminação das comunidades pesqueiras por agrotóxicos.

O Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos, que são substâncias químicas de extrema persistência no ambiente e no organismo. Estima-se que apenas 0,1% do agrotóxico utilizado permanece no alvo, enquanto 99,9% do conteúdo é dispersado no ambiente, gerando contaminação difusa do solo, da atmosfera, da água, da fauna e das pessoas. A contaminação provocada pelo uso de agrotóxicos é global, pois pode ser levada para áreas distantes do planeta por meio da atmosfera e das águas.

A principal forma de contaminação das pessoas por agrotóxicos ocorre de forma indireta, pela alimentação, entretanto, quem manuseia o produto ainda está exposto à contaminação direta.

Nas pessoas, a contaminação por agrotóxicos afeta o sistema nervoso, reprodutivo e imunológico, atingindo o feto através da placenta e os recém-nascidos, pelo leite materno. Os sintomas agudos da contaminação direta são os mais conhecidos, mas há poucos estudos sobre os efeitos crônicos, causados pela exposição prolongada a níveis residuais dos agrotóxicos.

O programa de análise de resíduos de agrotóxicos (PARA) da ANVISA realiza o monitoramento dos alimentos consumidos pela população, tendo verificado os maiores níveis de resíduos de agrotóxicos nos seguintes alimentos: pepino, alface, cenoura, morango, pimentão, tomate, uva, mamão, beterraba e cebola. Ainda, os sistemas de tratamento de água para consumo humano não são capazes de retirar alguns componentes dos agrotóxicos da água.

A pesquisa intitulada "Bifenilas policloradas e pesticidas organoclorados persistentes em comunidades pesqueiras no estado do Rio de Janeiro" estudou a presença de resíduos de agrotóxicos em tainhas e corvinas, bem como no sangue das comunidades de pescadores da Ilha do Araújo e da Baía de Guanabara.

O estudo verificou a presença de componentes dos agrotóxicos em todas as amostras de peixes, bem como no sangue das comunidades de pescadores. Conforme esperado, os índices das amostras da Baía de Guanabara forma superiores às da Ilha do Araújo, pois há mais rios que desaguam na Baía de Guanabara vindo de áreas de produção agrícola.

As quantidades encontradas nas amostras da Ilha do Araújo foram consideradas residuais, estando dentro dos níveis tolerados – o que significa que não há necessidade para alarme. Entretanto, o estudo é importante para alertar para os seguintes fatos:

  • A contaminação das águas por agrotóxicos afeta a cadeia alimentar marinha, atingindo as pessoas;

  • Através da cadeia alimentar, as concentrações de agrotóxicos tendem a aumentar nas espécies, sobretudo nas carnívoras, pelo efeito da bioacumulação;

  • Os principais químicos encontrados nos peixes são o Endosulfan e o Dicofenol; O endosulfan é proibido em países desenvolvidos, onde continua a ser produzido e exportado para o Brasil. O dicofenol é produzido a partir da molécula do DDT, que foi proibido mundialmente nos anos 80.

  • Nas amostras coletadas foram encontradas substâncias proibidas, banidas, restritas e tóxicas, indicando que produtores rurais utilizam irregularmente substâncias químicas na produção de alimentos.

De acordo com a pesquisadora Paula Sarcinelli,“o pescado das baías de Paraty e da Guanabara pode continuar a ser consumido pela população, pois as quantidades de agentes químicos encontrados ainda são consideradas toleráveis. A importância deste estudo está na conscientização da sociedade para os impactos do uso de agrotóxicos na produção de alimentos, principalmente no que se refere à contaminação difusa do ambiente, que também chega até os peixes.”

O evento “Sextas Ambientais: ambiente e sociedade” é um ciclo de conversas que busca incentivar o envolvimento da sociedade nos desafios ambientais da atualidade.