Vegetação

Em se tratando de uma Unidade de Conservação, o Parque Nacional de Ubajara (PNU), se constitui em uma área ecologicamente importante para o Ceará, com uma área de 6.288 hectares de exuberantes faixas vegetacionais, onde o primeiro estudo sobre a sua vegetação foi desenvolvido por Fernandes et al (1979). No referido levantamento florístico, os autores assinalaram, nas faixas vegetacionais do Parque Nacional de Ubajara, 283 espécies distribuidas em 83 táxones a nível de família, sendo que 74 foram identificadas por seus binômios e as demais até o táxon genérico. Os grupos taxonômicos mais representativos foram pertencentes às seguintes famílias botânicas: Fabaceae, Caesalpinaceae, Mimosaceae, Asteraceae, Euphorbiaceae e Apocynaceae.

Esses dados ressaltam a ocorrência de uma diversidade específica no referido Parque, bem como a importância ecológica que o mesmo representa.

No atual levantamento, o parque foi dividido em duas partes de terra separadas. A primeira, onde se encontra instalada sua Sede Administrativa, localiza-se na chapada, tem uma área de 64 hectares e corresponde ao antigo Horto Florestal de Ubajara. Esta área apresenta topografia uniforme e não possui qualquer curso d'água.

A segunda área, ocupada pelo Parque propriamente dito, com 563 hectares, num corpo de terra único, a uma distância aproximada de 7 km da Sede, pode ser dividida, a grosso modo, em três sub-áreas, a saber.

  1. Uma faixa de chapada ou topo da serra – platô, com festonamentos pronunciados para leste apresentando largura média aproximada de 300 m;
  2. Faixa com denominação local de "cinta", onde é interrompido o talude, formando patamar com a largura variando de 30 a 80 m;
  3. Faixa de encosta, de inclinação menos abrupta, com relevo dissecado e apresentando, em diversos pontos, afloramentos bem destacados constituídos de rochas calcáreas.

Entre as espécies distribuídas ali, exóticas ou não, e atualmente em conjunto com outras locais, citam-se: Andá-açu (Johannesia princeps Vell.), Aroeira (Myracrodum urundu va Fr.All.), Angico preto (Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan (=Piptadenia macrocarpa Benth.), Bálsamo (Myroxylon peruiferum L.), Baraúna (Schynopsis brasiliensis Engl.), a leguminosa Cassia javanica, Flambuaian (Delonix regia (Boj.) Raf.), Cumarú (Dipterix alata Vog.), Cumatí (Myrcia atrametifera Barb. Rodr.), Cedro (Cedrella sp.), Carne de vaca (Pterogyne nitens Tull.), Eucaliptos de diversas espécies (Eucaliptus citriodora Hook., E. saligna Sm., E. tereticornis Smith, E. rostrata Schlecht, E. robusta Smith, E. viminalis Labill, E. crebra F. Muell., E. alba Reinw., E. muculata Hook., E. paniculata Smith, E. angulosa Schauer), Faveira (Stryphnodendron purpureum Ducke), Garapa (Apuleia molaris Spruce), Jatobá (Hymenaea coubaril L.), Mama cachorro ou tarumá (Vitex flavens H.B.K.), Nogueira do Iguape (Aleurites moluccana Willd.), Pau d'óleo ou copaíba (Copaifera langsdorffii.), Sabiá (Mimosa caesalpiniiefolia Benth.), Sabonete (Sapindus saponaria L.), Sapucaia (Lecythis sp.), Sucupira (Bowdichia virgilioides H.B.K.).

A relação acima deve ser acrescida das plantas frutíferas, tais como: Abacateiro (Persea gratissima Gaertn.), Cajueiro (Anacardium occidentale L.), Goiabeira (Psidium guajava L.), Jaqueira (Arthocarpus integrifolia L.F.), Laranjeira (Citrus aurantium L.), Mangueira (Mangifera indica L.).

Destacam-se como espécies autóctones ou subespontâneas, quer se trate de relíquias da mata primitiva, quer se trate de vegetação secundária ou de capoeira, entre outras, as árvores Babaçú (Orbignya phalerata Barb. Rodr.), Pau-pombo (Tapirira guianenses Aubl.), Chapéu-de-sol (Cordia araripensis Riz.), Muricí (Byrsonima sericea DC e B. verbascifolia Rich.), Almécega (Protium heptaphyllum M.), Freijó (Cordia trichotoma Vell.), Tatajuba (Clorophora tinctoria Gaud.), Potumujú (Centrolobium robustum M.), Arapiraca (Pithecelobium foliolosum Benth.), Angelim (Lonchocarpus aff. araripensis Benth.), Maçaranduba (Manilkara rufula Lam.), os arbustos conhecidos pelos nomes de Dominguinhos (Cestrum laevigatum Schlecht), Cambuí (Myrcia sp.), Besouro (Senna hoffmannseggii M.), Chumbinho (Lantana camara L.), Camará (Verbesina diversifolia DC.), as lianas Mucunã (Dioclea sclerocarpa Ducke e D. grandiflora M.), Maracujá do mato (Passiflora sp), Mata-fome (Serjania sp), Bredemeyra floribunda Willd., as herbáceas Capim-gordura (Mellinis minutiflora Beauv.), arrapicho-de-agulha (Bidens bipinnatus L.), além das referidas pelos binômios científicos de Borreria verticillata Mayer, Centratherum punctatum Cass., Chaemecrista duckeana P. Bezerra et A. Fernandes, e ainda algumas criptógamas, como líquens e briófitas epifitando algumas árvores, a pteridófita trepadeira Lygodium venustum Sw., entre outras.

Na área do Parque propriamente dito compreendida na área da chapada, há ainda, na atual mata, remanescentes da primitiva floresta tropical pluvial. Aqui, também houve a interferência do homem, antes da constituição do Parque, quer seja pela utilização de árvores para marcenaria ou carpintaria, quer seja pela sua substituição para dar lugar aos cafezais sombreados, aos pomares e a culturas diversas.

A mata menos tocada, além de pequenas manchas intercalares, ocupa o bordo que contacta com a "cinta". No restante, afora a vegetação "clímax", surgem pequenas áreas de capoeira baixa, com predomínio de gramíneas e outras espécies herbáceas ou subarbustivas, além do babaçú invasor.

As espécies da mata remanescente ou secundária do topo com maior frequência ou características são: Jitó (Guarea tuberculata Vell.), Pau-pombo (Tapirira guyanensis Aubl.), Pau-d'arco-amarelo (Tabebuia serratifolia G. Don), Babaçú (Orbignya phalerata Barb.Rodr.), Almécega (Protium heptaphyllum March.), Ateleia ovata Mohlenbrock, Cedro (Cedrela fissilis Vell.), Cajazeira (Spondias mombim L.), Chapéu-de-sol (Cordia araripensis Riz.), Mirindiba (Buchenavia capitata Eichl.), Burra leiteira (Sapium lanceolatum Hub.), Lacre (Vismia guyanensis Pers.), a leguminosa Cassia chrysocarpa Desv., Arapiraca (Pithecellobium foliolosum Benth.), Barbatimão (Stryphnodendron purpureum Ducke), Camunzé (Pithecellobium polycephalum Benth.), Pau-d'óleo (Copaifera langsdorffi.), Muricí-preguiça (Byrsonima sericea D.C.), Muricí-de-lenha (Byrsonima verbascifolia Rich.), Guabiraba (Eugenia sp.), Araçá (Psidium sp.), Inharé (Brosimum guadichaudii Trec.), Tatajuba (Chlorophora tinctoria Gaud.), Torém ou imbaúba (Cecropia sp.), além de representantes das pteridófitas, que apresentam uma grande diversidade no referido trecho do PNU, como por exemplo a arborescente Cyathea sp. e as subarbustivas Macrothelypteris torresiana (Gaud.) Ching., Thelypteris interrupta (Willd.) Iwat. e T. serrata Cav.

Na faixa correspondente à "cinta", além de fruteiras indicadoras de antigos plantios, repetem-se muitas das espécies mais comuns no topo, com invasão, nos lugares menos úmidos, de representantes da mata sêca, entre êstes, Pitiá (Aspidosperma ulei Mgf.), uma liana Arrabidaea, Barriguda (Ceiba pubiflora (St. Hil.) Schum.), Mirindiba (Buchenavia capitata Eichl.), Cipaúba (Thiloa glaucocarpa Eichl.), Desmanthus virgatus Willd., Ingazeira (Inga ingoides Willd.), Sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia Benth), Mulungú (Erythrina velutina Willd.), Mangue (Rapanea sp.), João-mole (Pisonia sp.) e Mangue-da-serra (Clusia sp.)

A encosta, que compreende a área de maior amplitude, oferece também o testemunho de plantios anteriores de fruteiras e é revestida de mata sêca. Nas partes de menor altitude, pouca diferenciação se verifica em relação à composição florística do sertão que se segue ao pediplano. Entre outras, apresenta as seguintes espécies características: Sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia Benth.), Angico (Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenan.), Jurema preta (Mimosa acutistipula Benth.), Jurema Branca (Piptadenia aculeata (Benth.) Ducke), Pau-d'arco-amarelo (Tabebuia serratifolia G. Don.), Mororó (Bauhinia macrostachya Benth. e B. cheilantha Stend.), Mofumbo (Combretum leprosum Mart.), Marmeleiro (Croton sonderianus M. Arg.), Pau-d'alho (Gallesia gorazema Moq.), Pau Branco (Auxemma oncocalyx Taub.), Aroeira (Astronium urundeuva Engl.), Araticum (Annona coriacea Mart.), Freijó (Cordia trichotoma Vell.), Mutamba (Guazuma ulmifolia Lam.), Jucá (Caesalpinia ferrea var. cearensis Hub.), Imburana de Cheiro (Torresea cearensis Fr. All.), Pajeú (Triplaris gardneriana Willd.), Coaçú (Coccoloba cordifolia Meissn.), Oiticica (Licania rigida Benth.), Gonçalo Alves (Astronium fraxinifolium Schott.), Tinguí-de-bola (Magonia glabrata St. Hil.), Paraiba (Simaruba versicolar St. Hil.), dentre outras.

Da relação das espécies coletadas neste levantamento, onde em termos de número de espécimes é da ordem de 776 exemplares, a listagem florística atual assinala 504 espécies distribuidas em 108 táxones a nível de família e 328 táxones genéricos, representando um significativo aumento em número de espécies. Algumas espécies não foram coleta das, por se encontrarem em fase vegetativa (sem órgãos de reprodução), tendo sido apenas observadas e registradas. A listagem florística completa do parque, incluindo, além da identificação das plantas vasculares (Pteridófitas e Angiospermas – Monocotiledoneas e Dicotiledoneas), a respectiva forma biológica e/ou hábito, com as plantas organizadas em grupos taxinômicos, por ordem alfabética e acrescidas, quando possível, dos correspondentes nomes populares, pode ser observada no Anexo 5.3-1. Acrescenta-se a esta listagem a espécie Tabebuia sp., vulgarmente conhecida por Ipê-roxo ou Pau-d'arco-roxo, de ocorrência comum no Parque, especialmente na cinta e na encosta, cuja floração nos meses de julho a agosto embeleza ainda mais a unidade de conservação.

De uma forma geral, a presente listagem florística apresenta todos os elementos da flora observados e/ou coletados nas áreas do Parque Nacional de Ubajara, incluindo desde elementos da mata primitiva, com as espécies autóctones, subespontâneas, até das frutíferas, exóticas, como também das matas secundárias ou capoeiras. Na verdade, todos os vegetais relacionados na presente listagem, constituem os representantes florísticos que caracterizam como um todo a paisagem vegetacional do Parque Nacional de Ubajara, correlacionados com os diversos fatores ambientais que sustentam de forma harmoniosa os recursos naturais ali existentes.

Caracterização Fitogeográfica

Esses aspectos são marcantes no PNU, onde a vegetação se constitui em um dos importantes recursos naturais que o caracterizam como unidade de conservação.

Tendo em vista as diferenças litológicas, a estrutura geológica, a compartimentação topográfica, o clima e os solos, além da florística e fisionomia, registram-se para o Parque Nacional de Ubajara duas Unidades Fitogeográficas: Floresta de mata úmida serrana – Arboreto Climático Perenifólio e Floresta de mata seca – Arboreto Climático Estacional Semicaducifólio, segundo a classificação de Fernandes (1998).

  1. Arboreto Climático Perenifólio

    Popularmente conhecida por Mata úmida serrana, está localizada sobre os setores mais elevados, na chapada ou topo da serra, onde existem ainda remanescentes da primitiva floresta tropical pluvial, apesar de se perceber que houve a interferência antrópica, antes da criação do Parque. Ocupa também trechos de manchas intercalares no bordo que contata com a "cinta", antes de surgir a chamada zona de transição. Provavelmente a altitude e a exposição dos ventos úmidos sejam os principais determinantes da ocorrência deste tipo de floresta.

Os representantes da comunidade vegetal apresentam-se, em geral, como árvores lenhosas de caules retilíneos, espessos, com alturas que alcançam os 30 metros, cobertos muitas vezes por diversas epífitas, como líques, briófitas, pteridófitas, orquídeas, bromélias e lianas (Fernandes, 1998).

  1. Arboreto Climático Estacional Semi-caducifólio

    Conhecida como Mata seca, ocupa os níveis inferiores na vertente, à retaguarda da mata úmida, onde esta foi registrada, e ainda os níveis mais próximos do pediplano. São áreas menos úmidas, que contatam com a "cinta", chegando a cobrir toda a extensão da encosta. No Parque Nacional de Ubajara constitui a mais expressiva mancha vegetal, no que se refere à amplitude ecológica.

Registram-se aí indivíduos da mata úmida, em menor escala, e da caatinga, em cuja faixa de amplitude ecológica conseguem viver, muitos dos quais semelhantes aos que ocorrem no pediplano sertanejo, onde no período de estiagem percebe-se nitidamente a semicaducifolia dos representantes ali ocorrentes.

A seguir são assinaladas as seguintes conclusões sobre a flora e a vegetação do Parque Nacional de Ubajara:

  • A listagem florística registra 504 espécies, até o momento, entre Angiospemas e Pteridófitas, distribuídas em 108 táxones a nível de família;
  • O número de espécies ocorrentes no Parque aumentou em torno de 43%, comparando-se com o primeiro levantamento, realizado em 1979, quando foram assinaladas 283 espécies, distribuídas em 83 táxones a nível de família, com apenas 74 entidades botânicas identificadas pelos seus binômios científicos;
  • Entre as Angiospermas, certas famílias são registradas como novidades neste levantamento, tais como: Agavaceae, Aristolochiaceae, Cochlospermaceae, Eleocarpaceae, Eriocaulaceae, Iridaceae, Molluginaceae, Portulacaceae e Ulmaceae. Entre as Pteridófitas, suas espécies são registros novos para o Parque Nacional de Ubajara, uma vez que, no primeiro levantamento foram registradas apenas 6 espécies, identificadas até taxon genérico, e, no atual estudo, foram identificadas 21 espécies;
  • Ainda com relação à Flora Pteridofítica, que se apresenta tão bem diversificada no PNU, registra-se a ocorrência de um representante arborescente Cyatheaceae, considerado por alguns autores como um elemento pteridofítico ameaçado de extinção, além de algumas subarborescentes, formando verdadeiros canteiros com grande densidade populacional;
  • Entre as famílias citadas anteriormente, as Araceae, Asteraceae, Bromeliaceae, Euphorbiaceae, Orchidaceae, Oxalidaceae, Poaceae e Rubiaceae, dentre outras, tiveram o número de suas espécies elevados em torno de 50%, comparando-se com o estudo realizado em 1979;
  • Sobre as Leguminosas - Caesalpiniaceae, Fabaceae e Mimosaceae, continuam sendo as mais representativas, aliás, novos registros também foram assinalados entre esses táxones;
  • Sobre as áreas do PNU, pelos aspectos aqui estudos, percebe-se que as faixas de chapada e "cinta" apresentam-se com uma grande diversidade taxinômica característica de mata úmida, incluindo os vários elementos florísticos já mencionados, embora considerando as alterações sofridas em épocas antes da criação do Parque, como Unidade de Conservação; a faixa da encosta, que compreende a área de maior amplitude, precisaria de estudos mais aprofundados, no entanto, o que se tem até o momento, é que apresenta-se em sua totalidade recoberta por mata seca, onde nos trechos de maior altitude, os elementos florísticos assemelham-se com os vegetais da depressão sertaneja;
  • Dessa forma, com relação à vegetação do Parque Nacional de Ubajara, através do levantamento florístico e de observações de sua fisionomia, além de dados bibliográficos complementares, constata-se que o Parque apresenta-se distribuído em duas unidades de vegetação caracterizadas como Arboreto Climático Perenifólio (mata úmida serrana) e Arboreto Climático Estacional Semi-caducifólio (mata seca), ressaltando as várias observações comentadas na descrição da área do Parque;
  • Não foram detectados nas áreas correspondentes ao Parque, focos de queimadas e/ou desmatamentos recentes, pelo contrário apresenta-se como uma área que guarda trechos recuperados, de ações que antecederam a sua criação, como também extensos trechos de matas primitivas ainda bem conservadas;
  • A área do entorno, apresenta-se muito devastada, com focos visíveis de desmatamentos, queimadas, como também de poluição deixada pelo homem, mostrando trechos próximos do limite do Parque que ameaçam a integridade do mesmo, onde devem ser tomadas atitudes para deter tal devastação.